NO SOFÁ COM RUBÉN MAGNANO

Com o cabelo meio despenteado, a fisionomia tensa e o passo apertado, Rubén Magnano andava de um lado para o outro. Era hora do almoço na quarta-feira, no hotel em que a seleção ficou hospedada no Rio de Janeiro. Do restaurante para o elevador, do elevador para o quarto, do quarto para o saguão, do saguão para a rua, depois de novo para o saguão, o treinador tinha pressa para resolver problemas pessoais – coisa de banco, como qualquer mortal. Quando se livrou da preocupação, ele parou, respirou fundo, sentou no sofá acolchoado do Sheraton e conversou com o Rebote. Com toda paciência do mundo, falou pausadamente sobre as duas semanas de treino, os problemas físicos, o prazo para fechar a lista de 12 jogadores, a escolha de Nezinho, a fatídica posição 3, os planos para usar Alex na defesa e o otimismo às vésperas dos primeiros amistosos.

>>> "Tivemos umas adversidades, com gente machucada, mas com um bom espírito para seguir em frente"

- REBOTE - A primeira fase de treinos chegou ao fim. Qual é a sua avaliação?
- RUBÉN MAGNANO - Nestas duas semanas, foi um treinamento muito legal, com muito comprometimento por parte dos atletas. Tivemos umas adversidades, com gente machucada, mas com bom espírito para seguir em frente. O ideal é ter todos os jogadores disponíveis para o treino no momento da apresentação. Não aconteceu assim por algumas adversidades, temas contratuais, ou de lesões. Mas o espírito é muito bom. Trabalhamos duro, com muitas expectativas. Todos estão confortáveis, inclusive no que diz respeito ao hotel, à gastronomia, ao ginásio, à quadra, ao transporte, que também foi ótimo.

- No ano passado, Moncho Monsalve reclamava muito disso, porque o ônibus da seleção levava mais de uma hora do hotel ao ginásio do Maracanãzinho.
- Pois é, agora foi um lugar bem perto, em 10 minutos saímos da quadra e voltamos para o hotel. Isso tem um valor muito grande, é um tempo de descanso que eles aproveitam.

- Nos amistosos do Super 4, você já vai conseguir colocar em prática tudo que fez nos treinos? Ou as questões físicas ainda vão limitar alguns desses testes?
- Temos alguns problemas físicos. Nenê ainda está se recuperando. Tiago e Anderson ainda estão retomando suas verdadeiras formas. Vamos acertando isso durante o torneio. O restante da equipe está bastante bem nesse aspecto.

>>> "Na hora de tomar minha decisão, pesou muito o caráter do Nezinho em quadra"

- Queria que você comentasse as escolhas dos jogadores puxados da seleção B, que foi campeã no Sul-Americano. O pivô Murilo, MVP do torneio, foi uma opção natural. O armador Nezinho foi uma surpresa para alguns. Qual foi o seu critério?
- O critério sem dúvida é técnico. Mas não é uma decisão de uma ou duas partidas. Trabalhei com eles por quase um mês em São Paulo. Na hora de tomar minha decisão, pesou muito o caráter do Nezinho em quadra. Ele teve momentos importantes nas partidas, com muita determinação. Esse foi um dos pontos. Também pesou o que a comissão técnica do Sul-Americano me falou.

- Você tem agora 13 jogadores no grupo e diz que a lista ainda não está fechada. Quando vai tomar esta decisão? Depois do Super 4 ou depois de Nova York?
- A não ser que aconteça algo estranho, minha ideia é decidir a lista depois do Super 4 de Brasília e já viajar para Nova York com a equipe final.

- Se realmente levar três armadores, como todos esperam, o Raulzinho já poderá contribuir efetivamente no Mundial? Ou é mais um projeto para o futuro, para ele pegar ambiente de seleção tendo em vista o Pré-Olímpico do ano que vem e os Jogos de 2012?
- Ele está muito perto de ficar no grupo, mas ainda não está confirmado. Se ele ficar na equipe final, será mais para essa equação que você falou, de ter em mente como é uma seleção adulta, para o futuro. Mas poderá, sim, ajudar em algum momento.

- Na Copa América de 2009, o Brasil rodava basicamente sete, no máximo oito jogadores. Agora você tem o Nenê e o Marquinhos, que não estavam em San Juan. Já tem uma ideia de quantos atletas pretende usar na sua rotação?
- Não sei qual treinador pode falar que “só vamos jogar com seis, com sete, com dez”. Há variáveis no jogo que não me permitem avaliar isso agora. Acredito que o cenário ideal esteja entre nove e dez jogadores. Mas há jogos que pedem oito e jogos que pedem 12.

>>> "A altura do Alex não é um problema, porque ele tem uma fortaleza para defender um adversário mais alto tranquilamente"

- A posição 3 tem sido muito discutida no Brasil nos últimos anos. Na Copa América, quem jogou nela foi Alex, que, apesar de não ser tão alto, é um grande defensor. Agora você também tem o Marquinhos. O que você está pensando para esta posição?
- São mesmo esses dois jogadores. Na defesa, talvez mudando um pouco. Leandrinho às vezes se sente mais cômodo defendendo um ala do que um armador. Não seria um problema. Assim como a altura de Alex também não é um problema, porque ele tem uma fortaleza para defender um adversário mais alto tranquilamente.

- O Alex [na foto acima, marcando Huertas durante um treino] é o seu principal defensor? Pensa em usá-lo sempre para marcar o maior pontuador de perímetro do adversário? Ou até um armador, como fez com Prigioni na Copa América?
- Ele seguramente vai pegar um pontuador. Até porque agora, para dar um respiro na posição 1, temos Nezinho e o terceiro armador. Não podemos esquecer que Huertas também é um bom defensor. Vem de uma temporada em que defendeu muito bem Prigioni e Ricky Rubio. Mas, voltando à pergunta, Alex vai ficar mais em cima de um pontuador.

- Ao fim desta primeira fase de treinos, essa boa resposta dos jogadores na quadra te deixou mais otimista do que no momento da sua chegada?
- Na verdade eu já tinha muita esperança que fosse assim. Isso alimenta a confiança de todo mundo no grupo. Existe um ambiente ótimo, mas não podemos confundir e parar aí. Devemos trabalhar mais para adicionar ainda mais química à equipe. É preciso obter uma melhora diária, e isso só se consegue com trabalho.