quinta-feira, 30 de setembro de 2010

E AÍ, VALEU A PENA?


Em dois anos, a seleção feminina viveu uma novela chata, com atores ruins e um roteiro mal amarrado, cheio de buracos. Resumindo ao máximo a linha do tempo, foi assim:

13 de junho de 2008 – Iziane se recusa a entrar em quadra e é cortada por Bassul.
4 de maio de 2009 – Carlos Nunes é eleito novo presidente da CBB.
5 de maio de 2009 – Hortência assume o basquete feminino com carta branca.
3 de março de 2010 – CBB abre mão de Bassul e contrata Carlos Colinas.
8 de junho de 2010 – Colinas convoca Iziane para jogar o Campeonato Mundial.

Nunes e Hortência, claro, garantiram na época que a volta da jogadora não tinha nada a ver com a saída do técnico-desafeto. Com desfecho que aconteceu, no entanto, nem preciso dizer quem teve o final feliz e o final triste na novela, né. Pois agora que Iziane disputou sua primeira competição sob o comando do novo treinador, cabe a pergunta inevitável: valeu a pena? E a resposta está na ponta da língua: não.

Em uma das maiores pedras cantadas da história recente do nosso basquete, Iziane atrapalhou mais do que ajudou no Mundial da República Tcheca, e Colinas fez o nível tático cair em relação ao antecessor. Com um agravante: o espanhol teve à sua disposição a pivô Érika, melhor jogadora do país, que não vestia a camisa do país desde 2006.

Não vou ficar aqui defendendo Bassul, até porque ele de fato não atravessava uma fase boa no comando da seleção – cometeu erros e foi criticado nas Olimpíadas. Mas o resultado da queda de braço entre o técnico e a estrela foi nocivo para o Brasil. Colinas não conseguiu sequer desenhar jogadas para Érika, que só recebia lançamentos em balão e tinha que se virar para pontuar – e ela dava um jeito, grandíssima jogadora que é, o que evitou um vexame ainda maior.

Se ao menos Iziane tivesse resolvido a parada, beleza. Mas ela só jogou alguma coisa nas duas últimas partidas, quando uma possível classificação às quartas já era vista como milagre. E mesmo após essas boas atuações, fechou o torneio com aproveitamento abaixo da crítica nos arremessos: 38% nos tiros de dois, 32,4% nos de três, 65% nos lances livres. Imagine então como eram esses números antes das duas rodadas finais.

Dito isso, volto a perguntar: valeu a pena?

FALA QUE EU TE ESCUTO:


>>> "Tenho a consciência absolutamente tranquila, e esse é o maior valor que um treinador pode ter. Fizemos tudo o que poderíamos fazer e estávamos respaldados por uma comissão técnica formada por excelentes profissionais. A avaliação que eu faço é que o trabalho feito nesses quatro meses foi o correto. A partir daí, na competição, você pode ganhar, pode perder, tem os fatores de sorte... estou decepcionado, é claro, mas com a consciência tranquila"

CARLOS COLINAS, em entrevista ao SporTV após a derrota de quarta.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

RENOVAÇÃO NA MARRA


Como era de se esperar, tombou o Brasil. Até jogou bem no primeiro tempo, mas teve lá suas panes no segundo e caiu diante das donas da casa. Com isso, está fora das quartas de final pela primeira vez em duas décadas e agora luta pelo nono lugar – ou para não repetir o 12º de 1975, nosso pior resultado da história em Mundiais. Obviamente não foi só contra as tchecas que a seleção perdeu o rumo. Foi contra as coreanas, na derrota que não podia ter acontecido. Foi contra as espanholas, que a gente costumava bater até pouco tempo atrás. Foi nas vitórias nada honrosas sobre Mali e Japão. A posição final no torneio, cá entre nós, pouco me importa. A pergunta que grita no ouvido da confederação é simples:

E agora?

Bem, agora vamos renovar o elenco, né. À força, na marra, porque não tem outro jeito. Alessandra (36 anos) e Helen (37), infelizmente, não são eternas. O trabalho que deveria ter sido feito aos poucos será feito aos trancos. O próprio Mundial, aliás, podia ter sido usado para dar rodagem a outras meninas, como aconteceu com Damiris, de 17 anos, que aproveitou muito bem a oportunidade. Nádia Colhado teve o problema no tornozelo, uma pena, mas a armadora Tássia podia ter ido. Além de Helen, Adrianinha tem 31 anos. Quando é que a gente vai preparar novas armadoras? Não faria mal nenhum levar a talentosa garota no lugar de uma Palmira, uma Kelly ou uma Fernanda Beling, que mal apareceram na Rep. Tcheca.

Após décadas de descaso com a base no feminino, a confederação que se vire agora para arrumar novas peças. Vai ser duro. Mas antes disso, Hortência tem uma questão mais urgente a resolver: Carlos Colinas continua? O saldo do técnico espanhol após o torneio não é nada bom. E se parecia claro desde o início que o trabalho era de curto prazo, o que será que vão fazer com ele agora?

FÓRUM: BRASIL x REP. TCHECA


Agora não há para onde correr. O Brasil enfrenta a República Tcheca às 13h para jogar sua sobrevivência no Mundial. Será que dá? Você vê o jogo e vai deixando aqui a sua opinião.

QUATRO ANOS QUE PARECEM 40




No Mundial de 2006, tive o privilégio de ver no Ibirapuera uma das melhores atuações que a nossa seleção feminina de basquete já teve: 75 a 51 nas quartas de final em cima da República Tcheca, que era campeã europeia e vinha sendo uma das atrações do torneio. Foi um show do Brasil, veja só, um Brasil comandado por Antonio Carlos Barbosa – não, eu não tenho saudades dele. Iziane liderou o ataque naquela partida, com 23 pontos. Mas foi Janeth, com uma lesão no tornozelo, que fez chover: 15 pontos, 10 rebotes, quatro roubos e três assistências.

Corta para quatro anos depois. A seleção volta à quadra hoje, às 13h, para enfrentar a mesma República Tcheca, de novo num jogo de vida ou morte – agora só para nós, não para elas. As diferenças para aquela atuação épica? Bem, são muitas. A começar pelo fato de que, desta vez, são as tchecas que estão em casa. Além disso, Janeth já não entra mais na quadra, e sem pegar na bola não dá para contribuir da mesma forma.

[Aliás, cabe uma pausa: você acha que Janeth, hoje, aos 41 anos, teria vaga nesta seleção? Se ela treinasse com o grupo desde o início e atuasse por tempo limitado, seria útil? Agora, depois do leite derramado, fica mais fácil levantar essa bola, claro. Mas bate uma dúvida...]

Ok, voltando às diferenças. O Brasil de 2006 tinha uma média de 13, 14 erros por jogo, ao contrário dos 25 ou 19 que já vimos neste Mundial. O Brasil de 2006 pegou a Coreia e lhe enfiou 20 pontos pela goela. O de agora perdeu para elas. O Brasil de 2006 ainda era um time que dava gosto de ver jogar, talvez o canto do cisne da geração que colocou o país entre os quatro melhores.

A equipe atual (ainda com algumas daquelas jogadoras, mas em fase pior) não tem dado gosto de ver jogar. Pode até dar hoje, surpreendendo as donas da casa, sei lá. Aliás, é bom que dê, se quiser continuar viva no Mundial. Ganhando, estamos nas quartas. Ganhando e torcendo por uma vitória do Japão sobre a Coreia, entramos até em terceiro e escapamos dos Estados Unidos. Perdendo? Bom, aí só nos classificamos se as japonesas bateram as coreanas por 1, 2 ou 3 pontos de vantagem. Qualquer coisa diferente disso nos manda de volta para casa. Será que dá?

CONTROLANDO MICHAEL JORDAN


Como muitos de vocês já devem saber, o game NBA 2K11, que sai agora em outubro, terá uma espécie de tributo a Michael Jordan, com a possibilidade de recriar partidas históricas do melhor de todos os tempos: o jogo da gripe, os 63 pontos contra o Boston, o último duelo da final de 1998, e daí por diante (veja aqui a lista completa). Nem sei se você gosta mais do 2K11 ou do NBA Live (que mudou de nome para Elite), mas dá uma olhada nessa prévia do vídeo abaixo. É o famoso jogo 1 da final de 1992, quando Jordan fez seis cestas de três pontos no primeiro tempo contra o Portland. Os gráficos são assustadores. Sugiro colocar na tela cheia, aumentar o som, se afastar um pouco do computador e chamar um amigo desavisado para assistir: ele vai achar que é TV.



terça-feira, 28 de setembro de 2010

FALA QUE EU TE ESCUTO


>>> "Foi bom porque serviu para calar a boca de muita gente que estava criticando a gente lá no Brasil"

ÉRIKA, em entrevista ao SporTV. Pena que a nossa jogadora mais lúcida no Mundial, alvo apenas de elogios, tenha caído na armadilha do desabafo. Então quer dizer que as críticas eram injustas? A seleção estava jogando o fino? E agora calou a boca de todo mundo com uma vitória histórica na prorrogação sobre as baixinhas do Japão, esta potência do basquete mundial? Se é isso, beleza, tudo bem..

MUITO ALÉM DA QUADRA




O Brasil vai atravessando a segunda fase do Mundial da República Tcheca aos trancos, carregando não apenas uma incômoda desvantagem de pontos no grupo F, mas principalmente arrastando um enorme, pesado e desconfortável fardo de desconfiança. Hoje, a vitória dramática sobre o fraquíssimo Japão manteve o país respirando no torneio, graças a uma atuação monstruosa de Érika e dois tiros milagrosos de Silvia e Iziane. Para continuar vivo, é preciso bater as donas da casa na quarta-feira. E aconteça o que acontecer, o caminho até aqui já diz muito sobre o nosso basquete feminino.

As jogadoras, que já entram em quadra sob uma chuva de tomates, cá entre nós, são as menos culpadas da história. Opa, é claro não vou aqui tirar toda a responsabilidade delas, por um simples motivo: a incrível falta de vibração em alguns jogos. Contra as baixinhas japonesas, todo mundo correu e lutou, mas o jeito apático como o time jogou contra a Espanha, por exemplo, vai direto para a conta das atletas.

O buraco neste caso é muito mais embaixo. Ou em cima. A culpa maior está no descaso de quem comanda. Está na confederação que, durante anos e anos da gestão anterior, sucateou o Campeonato Nacional e jamais implantou um projeto sério e abrangente para as categorias de base ou para a formação de treinadores. Resultado: nossas meninas crescem fazendo tudo errado, e o resultado na elite é esse festival de erros de fundamentos.

Também tem culpa a nova gestão, que tropeçou no planejamento e escolheu o lado errado na queda de braço entre um bom treinador em má fase e uma estrela que se julgava acima do bem e do mal. Caiu Paulo Bassul, ressurgiu Iziane, até agora chutando todas com o aproveitamento ruim de 33% (22/66) - e esse índice só subiu agora, com uma atuação melhor diante das japonesas. À beira da quadra, o espanhol Carlos Colinas não consegue domar a ala desenfreada, muito menos organizar o time, e reforça a cada jogo (tomara que ainda me desminta) a impressão de que foi escolhido no famoso estilo "não tem tu, vai tu mesmo".

A curto prazo, a seleção se agarra à esperança de repetir agora uma atuação incrível como a do Mundial de 2006, quando atropelamos a República Tcheca nas quartas. Não custa nada torcer. A longo prazo, a torcida é para que tudo – tudo mesmo – mude no basquete feminino. Se não mudar, voltaremos a essa mesma discussão chata e repetitiva no Pré-Olímpico de 2011, nas Olimpíadas de 2012, na Copa América de 2013, no Mundial de 2014, no Pré-Olímpico de 2015, nas Olimpíadas de 2016, na Copa América de 2017...

FÓRUM: BRASIL 93 x 91 JAPÃO


Até deu para ganhar, mas num tremendo sufoco, no tempo extra. Diante do fraco Japão, o Brasil se manteve vivo no Mundial, mas ainda não agradou. Viu o jogo? O que achou? Diga aí na caixinha.

NA CABEÇA OU NA TÉCNICA?


Nem lembro mais se foi ontem ou anteontem que vi, no SporTV, uma matéria sobre o treino da seleção feminina de basquete, com as jogadoras em clima de festa, usando fitas de ginástica rítmica, dançando, fazendo apostas para arremessos do meio da quadra, gargalhando. Ao mesmo tempo em que as imagens despertam na torcida a reação natural do "estão rindo de quê?", mostram também que, aparentemente, não há problema de relacionamento no grupo. A cada jogo me convenço que a nossa campanha na República Tcheca tem mais problemas técnicos e táticos do que psicológicos. Estamos jogando mal mesmo, ponto, sem desculpas.

Fica a impressão de que o fato de errar tudo dentro da quadra gera a apatia do elenco, e aí tudo entra num ciclo. Fato é que, se quiser escapar de ser soterrada por essa bola de neve, a seleção precisa vencer de qualquer jeito na manhã de hoje. Sorte que o adversário das 10h15 é o Japão. Não que seja uma galinha morta (ganhou da Argentina e fez jogo duro contra a República Tcheca), mas no dia em que a gente perder para o Japão, aí é melhor mesmo arrumar as malas e voltar para casa, não concorda?

NOVOS ARES PARA LEANDRINHO




Após as atuações decepcionantes no Mundial, Leandrinho vestiu ontem o uniforme do Toronto Raptors no media day da NBA. Com o número 28 na camisa (o 10 é de DeMar DeRozan), afirmou: "Ainda não sei qual será minha função no time e isto não importa. Estou apenas contente de estar aqui agora". O técnico Jay Triano já avisou que a disputa por posições vai ser dura: "Vai haver muita competição, principalmente para os armadores. Nas posições 1 e 2, acho que temos um elenco forte. Posso ver seis jogadores jogando nas posições 1, 2 e 3". Será que Leandrinho vai se criar por lá?

FALA QUE EU TE ESCUTO:


>>> "Eu nunca disse que queria ser trocado"

CARMELO ANTHONY, que se reapresentou ontem ao lado de todo o elenco do Denver Nuggets. Cá entre nós, parece aquela história de "já que nenhuma tentativa de troca funcionou, paciência, deixa eu ficar bem com a minha torcida".

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

CADA VEZ MAIS COMPLICADO


O início equilibrado até enganou um pouco, mas não deu nem pra saída. O Brasil foi atropelado pela Rússia (76-53) e ficou numa situação ainda mais delicada no Mundial. Viu o jogo? Que tal?

ÉRIKA E O INTERMINÁVEL DESERTO


Desde 2007, o basquete feminino brasileiro aguardava o retorno de Érika. Por lesões, WNBA ou qualquer outro motivo, ela nunca vinha. Bom, agora veio, e tem de fato mostrado por que a saudade era tão grande. Érika é, de longe, a melhor jogadora da seleção no Mundial. Só não dá para dizer que é a única porque outras – poucas – tiveram breves momentos, como Alessandr, Helen e Damiris. É muito pouco.

Com a companheira Iziane no estilo aloprado de sempre, outras meninas cometendo inúmeros erros de fundamento, e um técnico que não conseguiu até agora botar ordem na casa, Érika está na República Tcheca para pregar no deserto. É basicamente nela que se agarra a esperança brasileira de dias melhores no torneio. O problema é que o compromisso de hoje, às 15h15, é justamente contra a Rússia, que tem um garrafão de meter medo em qualquer um, com Irina Osipova (13,3 pontos, 6,7 rebotes) e Maria Stepanova (10,0 e 8,3). Deu para perceber o tamanho da enrascada?

Ainda que o Brasil não seja eliminado na segunda fase, uma classificação em terceiro ou quarto significa um provável confronto com Estados Unidos ou Austrália nas quartas de final, e aí haja milagre. A campanha foi comprometida pelas atuações ruins da primeira fase. Com o estrago feito, parece tarde para reagir (tomara que me desmintam). O que vier de bom agora é lucro.

sábado, 25 de setembro de 2010

SEM SAL, SEM GRAÇA, SEM NADA


A apatia foi de doer. Não que a gente esperasse o triunfo, mas o Brasil não precisava jogar do jeito que jogou. Essa derrota por 69-57 mostrou um time com vontade zero de jogar basquete. Pena.

O HOMEM DAS BOAS COMPANHIAS


Aos 46 anos, Ron Harper já não sua a camisa. Com a blusa polo branca para fora do bermudão preto e a mesma careca dos tempos de jogador, ele anda lentamente pela quadra do Marina Barra Clube no America’s Team Camp, a clínica promovida pela NBA no Rio. A gagueira que fez dele um adolescente tímido (“na escola, eu só falava oi e tchau”) continua lá, mas agora tem a companhia de um sorriso meio bonachão, típico de quem venceu na vida. Harper venceu com sobras. Carrega cinco títulos da liga americana conquistados em ótima companhia – os três primeiros com os Bulls de Michael Jordan e os outros dois com os Lakers de Kobe Bryant. Enquanto passava um pouco dessa experiência para os 40 jovens da clínica, o ex-jogador bateu um papo com o Rebote e não ficou em cima do muro na hora de dizer quem é melhor: Jordan ou Kobe?

- REBOTE - Você e Bruce Bowen estão juntos aqui no Rio e têm trajetórias um pouco parecidas: os dois se reinventaram na NBA através da defesa e conquistaram vários títulos. Que lição defensiva pode passar para os garotos aqui?
- RON HARPER - Como um jogador de defesa, você tem que pensar sempre: “Vou anular aquele cara”. Comigo era assim. Queria pegar sempre o cara que pontuava. Porque se ele pontuar em cima de mim, vai pontuar em cima de qualquer jogador da liga. Bruce também era assim, sempre colocou muito orgulho no que fazia dentro da quadra. Aqui os garotos estão tentando evoluir e trabalhar duro. Se eles conseguirem trabalhar duro, no futuro vão jogar duro também. Isso aqui é para mostrar as suas habilidades e desenvolver as habilidades que vão te ensinar. Tem sido bom ver que a garotada está se dedicando.

>>> "O Chicago Bulls é o meu time preferido. Tínhamos um grupo de atletas que amava jogar basquete. Eles não jogavam porque tinham que jogar, mas porque amavam jogar uns com os outros de forma coletiva"

- Entre 2005 e 2007, você teve uma experiência como assistente técnico do Detroit Pistons. Pensa em voltar a trabalhar como treinador?
- Não sei, eu tento viver um dia de cada vez. De verdade, não tenho planos. O que tiver que acontecer vai acontecer. É claro que fico muito feliz de poder voltar a um ginásio, como estou fazendo agora, para ensinar aos garotos como se joga este esporte.

- A clínica aqui no Rio reúne jovens latino-americanos, e muitos deles sonham ir para a NBA. Na sua época a liga não era tão aberta aos jogadores estrangeiros como é hoje, mas você jogou com Toni Kukoc, que foi muito importante para ajudar a abrir essa porta. Como foi a convivência com ele?
- Toni Kukoc! Era um baita jogador. Foi ótimo. Toni talvez tenha sido o melhor jogador europeu de todos os tempos. Ele chegou à NBA com muito talento, e isso facilitou as coisas. Tinha muita habilidade, muitos fundamentos, e cumpriu muito bem esse papel.

- Lembrando daquela época, sente falta dos tempos de jogador? Ainda joga suas peladas?
- [Risos] Não jogo mais, nem com os amigos, nem com meus filhos. Foi uma grande experiência na minha vida. É o que eu digo: se você tem um sonho, sonhe grande, e acontece.

- Você ganhou três títulos em Chicago e dois em Los Angeles. Por qual deles gostou mais de jogar?
- O Chicago Bulls é o meu time preferido. Tínhamos um grupo de atletas que amava jogar basquete. Eles não jogavam porque tinham que jogar, mas porque amavam jogar uns com os outros de forma coletiva. Los Angeles também foi uma ótima experiência, claro, porque os jogadores tinham muito talento, mas ainda não tinham o know-how. Estavam famintos para ganhar.

>>> "Kobe é o melhor jogador do mundo hoje. E MJ é o melhor de todos os tempos"

- Você jogou com Michael Jordan e com Kobe Bryant. Qual dos dois é o melhor?
- Kobe é o melhor jogador de basquete do mundo hoje. E MJ é o melhor de todos os tempos. Ele tinha que enfrentar grandes adversários e grandes times todas as noites. E naquela época havia todo o contato físico, as brigas. Agora você imagina, com todas essas mudanças de regras, se Jordan jogasse nos dias de hoje, quantos pontos ele faria por jogo? É assustador pensar nisso!

- Já conseguiu conhecer o Rio? Você parece estar se divertindo aqui...
- Estou na cidade há pouco tempo, mas quero conhecê-la. Quero muito aproveitar o que a cidade tem de bom. [Aponta para a relações públicas da NBA] Mas ela não pode contar para ninguém, ok, ninguém precisa saber disso [risos].

DAQUI EM DIANTE, HAJA SUPERAÇÃO




"Bassul sai ou fica? Iziane volta? Érika finalmente vai defender a seleção? Helen e Alessandra estarão na República Tcheca? E as mais novas, terão uma chance de verdade para ganhar terreno?" Coloquei essas cinco perguntas aqui no blog quando a seleção feminina conquistou a Copa América de 2009. A vitória sobre a Argentina na final em Cuiabá coroou uma campanha marcada pela superação depois dos tropeços que começaram ainda na fase de preparação. Um ano depois, claro, as perguntas já foram respondidas. Mas permanece uma dúvida: a seleção de hoje é capaz de repetir aquela?

É bom que consiga, se não quisermos voltar da República Tcheca com um triste vexame na bagagem. O que a equipe de Carlos Colinas apresentou até agora diante de dois adversários fraquíssimos foi lamentável: uma derrota para a Coreia e uma vitória suada contra a patética seleção de Mali, que na véspera tinha sido surrada sem nenhuma piedade pela Espanha.

Opa, olha a Espanha aí, é a nossa rival deste sábado, às 13h, com a veterana Valdemoro (foto à esquerda) em forma e a ala-pivô Sancho Lyttle (à direita, companheira de Érika e Iziane no Atlanta Dream) voando baixo: contra a Coreia, que nos bateu, ela meteu 28 pontos e pegou 15 rebotes. Com a nossa classificação já garantida, o jogo de hoje vale o tamanho da gordura que carregaremos para a segunda fase. Se perdermos esta partida, teremos uma missão dificílima no caminho que leva às quartas de final do campeonato.

O time da Copa América era menos talentoso que o de hoje (não tinha Érika e Iziane, por exemplo), e mesmo assim conseguiu corrigir seus erros, principalmente na defesa, até conquistar o título. No Mundial, óbvio, o buraco é mais embaixo e os adversários são bem mais difíceis, especialmente a partir da segunda fase. Haja superação...

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

FÓRUM: BRASIL x MALI


Depois da frustrante derrota na estreia, o Brasil volta à quadra nesta sexta-feira com obrigação de vencer Mali. Qualquer coisa diferente de uma vitória folgada vai ser encarada com temor...

UM PAPO COM O SR. DEFESA


É difícil ver Bruce Bowen ali no belo ginásio do Marina Barra Clube e não lembrar daquela voadora no rosto de Wally Szczerbiak, ou da joelhada nas partes baixas de Steve Nash, ou das pisadinhas discretas nos tornozelos alheios. O homem que jamais poupou seus rivais ao longo de 12 anos na NBA estava ali, com um sorriso simpático, orientando os 40 jovens jogadores latino-americanos que participam do America’s Team Camp, clínica da NBA e da Nike que vai até domingo no Rio de Janeiro. O papo com ele rolou entre um exercício e outro, pontuado por risadas soltas do ex-ala dos Spurs.

- REBOTE - Você foi um dos melhores defensores que já passaram pela NBA e incomodou muito os adversários, que até te acusavam de jogar sujo. Defesa forte é basicamente o que está tentando ensinar para esses garotos na clínica aqui no Rio?
- BRUCE BOWEN - Tento ensinar tudo a eles. Você tem que investir em qualquer coisa que vá te colocar na quadra em momentos decisivos. Eu acertei alguns grandes arremessos porque estava lá na quadra. Em algumas vezes, o Gregg Popovich não desenhava uma jogada para mim, mas em outras sim. Se você está na quadra, tem a oportunidade de fazer parte de algo especial. Então é preciso achar o nicho que vai deixá-lo ali. A defesa foi o meu achado. Eu conseguia fazer outras coisas porque a defesa me permitia. Hoje não são tantos caras que defendem assim, então pode ser uma oportunidade para esses garotos.

>>> "Tiago pode virar para o Duncan e perguntar: 'Ei, Tim, o que eu preciso fazer aqui?' E Tim vai ajudá-lo. Sorte ter um futuro integrante do Hall da Fama para orientá-lo"

- Quando Popovich voltou agora das férias, falou sobre Tiago Splitter numa entrevista e disse justamente isso, que o brasileiro tem de achar seu papel no time. Ele citou você, dizendo que você só arremessava de alguns pontos da quadra, e em outros pontos era melhor que você nem andasse...
- [Risos] É verdade. Vai ser uma transição tranquila para o Tiago. Ele já está acostumado a jogar em alto nível. Além disso, pode chegar sem a pressão de ter que fazer muito. Pode virar para o Duncan e perguntar: “Ei, Tim, o que eu preciso fazer aqui?”. E Tim vai ajudá-lo. Sorte do Tiago ter um futuro integrante do Hall da Fama para orientá-lo.

- Além disso, o San Antonio é um time acostumado a abrir as portas para jogadores estrangeiros, vide o caso de Manu Ginóbili, que virou protagonista lá. Para você, que conhece tão bem essa franquia, é a casa certa para o Tiago?
- Acho que, antes de mais nada, o sucesso dos Spurs vai deixar o Tiago satisfeito. Eles têm a consciência de quem é o jogador e vão facilitar as coisas para ele. O que importa é deixá-lo confortável numa posição em que possa contribuir. Quem sabe o que ele pode fazer? Tudo vai depender de quanto ele vai aprender algumas coisas. Por exemplo, o jogo não é tão físico na NBA como é na Fiba. Ele vai precisar dosar a intensidade, ainda trazendo aquela energia, mas recuando.

- Você jogou até o ano passado. Já deu para sentir saudade?
- Na verdade não, estou me divertindo. Tenho passado mais tempo com a família e agora posso fazer mais coisa com eles. Trabalho como comentarista, então ainda posso acompanhar e falar sobre basquete.

- Não tem jogado nem a famosa pelada com os amigos?
- Nada. Os únicos caras com quem eu jogo atualmente são meus filhos (Ojani, de 5 anos, e Ozmel, de 3). E mesmo assim é aquela coisa de criança, né...

- Imagino que você não marque seus filhos com a mesma “intensidade” que usava contra os adversários na NBA...
- [Risos] Não, claro que não. Não defendo tão bem contra eles.

- E também não vai ficar maluco levantando da mesa no restaurante para marcar o garçom ou algo parecido, né?
- [Gargalhadas] Não! Sem dúvida, não!

O TROPEÇO QUE NÃO SURPREENDE


Se as nossas reações como torcedores de basquete costumam ser extremas, no céu ou no inferno, a estreia da seleção feminina no Mundial foi daquelas que anunciam o apocalipse com quatro cavaleiros, sete trombetas e tudo mais que complete o pacote. Claro que aqui vai uma boa dose de exagero, mas o tropeço inaugural diante de uma fraquíssima equipe da Coreia do Sul (61-60) escancara os temores de muita gente. O técnico é ruim desse jeito? A parte emocional vai ser sempre esse drama? Iziane vai mesmo chutar todas? O problema da pobreza de fundamentos nunca será resolvido?

Pode ser só a boa e velha tensão da estreia (espero mesmo que seja), mas todos esses temores apareceram lá em Brno na partida de quinta-feira. Carlos Colinas teve atuação muito fraca, com substituições na hora errada e lances mal desenhados para a reta final. A pane psicológica se manifestou em vários lances, inclusive no passe descabido de Adrianinha que acabou na mão de uma coreana e selou o nosso tropeço. Iziane só acertou dois de seus 11 arremessos. E os fundamentos foram trágicos, com 19 desperdícios e arremessos que explodiam na tabela sem ao menos dizer oi para o aro.

Foi, obviamente, preocupante a estreia brasileira. No dia em que Hortência completou 51 anos, a seleção que ela dirige resumiu os velhos problemas que assolam o basquete feminino há muito tempo. A modalidade continua precisando de cuidados, e resta saber até quando vamos pagar o preço de tanto descaso. Como estamos no meio de um campeonato, vamos ver o que rola nesta sexta contra Mali. Qualquer outra coisa que não seja uma vitória convincente terá cheiro de crise.

Ah, só para não perder o hábito, leiam o ótimo texto do Bert sobre o jogo.

DANÇA DOS NÚMEROS

21,8

Foi a média de desperdícios de bola cometidos na estreia por Estados Unidos (19), Austrália (23), Espanha (22) e República Tcheca (23). Detalhe: todas essas seleções venceram suas partidas e estão cotadas para ir longe no Mundial feminino. Beleza. Mas que isso é erro demais, é.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

ENTREGAMOS O OURO NA ESTREIA


Foi triste, hein. A atuação muito ruim, a falta de organização e o passe errado de Adrianinha nos últimos segundos decretaram: mais uma derrota para a Coreia. Mais tarde volto para comentar.

A BOLA ESTÁ COM AS MENINAS




A renovação, como se sabe, ainda não veio. O espanhol Carlos Colinas convocou várias jogadoras jovens, mas acabou levando para o Mundial um grupo repleto de veteranas e pontuado por uma promessa adolescente, a pivô Damiris, de 17 anos. Ao mesmo tempo em que cortou jogadoras como Micaela, que não vinha rendendo bem ultimamente, o técnico se agarrou a outras que também vinham sendo criticadas, como Palmira, Karen e Kelly. Como não pude acompanhar os treinos em Barueri, fica difícil opinar de fora. Mas é este o Brasil que estreia hoje, às 10h15, contra a Coreia do Sul.

Nunca é demais lembrar que essas mesmas coreanas nos derrotaram na primeira partida em Pequim, na prorrogação, e desencadearam aquela campanha esquecível, com quatro derrotas e uma vitória inútil na última rodada. Vencer logo de cara seria um alívio na briga com a Espanha para terminar em primeiro lugar no grupo C e carregar uma boa campanha para a segunda fase – o outro rival é Mali.

Se as derrotas nos amistosos recentes levantam alguma preocupação, o otimismo vem em dose dupla com a chegada de Érika e Iziane. Ué, Iziane? Sim, Iziane. A ala nunca fez nada muito relevante com a camisa da seleção e eu jamais a traria de volta nestas condições (sem um indício claro de arrependimento), mas é inegável que a menina voou na temporada da WNBA. Se mantiver a cuca no lugar, pode ser um desafogo ofensivo muito bem-vindo.

Érika, esta sim, é a grande esperança. Fora da seleção há quatro anos – e no Mundial de 2006 ela estava baleada -, a pivô tem sido a melhor jogadora brasileira dos últimos tempos. Ainda que pese a falta de entrosamento e o fato de não ter treinado nada com Colinas, pode ajudar muito na base do talento. É o que eu espero, pelo menos. "Esperar", aliás, é um verbo difícil para este mundial. Como já disse o Balassiano, o clichê do “tudo pode acontecer” cai como uma luva na República Tcheca. Difícil fazer previsões.

Mas você pode dizer: o que espera das meninas? Vai lá, a caixinha é toda sua.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

O ANIVERSÁRIO E A MUDANÇA


Salve, amigos. Desculpem a falta de atualizações por aqui. Nesta segunda, o Rebote completou oito anos de existência, e o fato novo é que o blog está de mudança para o Globoesporte.com. Estou cuidando disso a tempo de retornar com todo gás ainda nesta semana, para a cobertura do Mundial feminino da República Tcheca. Abraços a todos.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

O FAMOSO PÉ NA LINHA


A imagem parece incontestável. No lance mais emocionante do Mundial, o turco Tunçeri faz a bandeja a cinco décimos do fim contra a Sérvia e garante a classificação para a final diante dos EUA. A imagem gravada por um torcedor na arquibancada mostra que, antes de partir para a cesta, ele pisa na linha lateral. Dê uma olhada aí e tire a dúvida.



Pisou mesmo? Parece claro, né. E outra pergunta: a Turquia foi muito ajudada pelos árbitros para chegar à final? Muita gente achou isso. Deixe sua opinião na caixinha.

OS RIVAIS NO PRÉ-OLÍMPICO


Após o Mundial, o debate nas caixinhas migrou para o Pré-Olímpico do ano que vem, em Mar Del Plata. Com o título dos Estados Unidos, eles são um rival a menos na luta pelas duas vagas em Londres-2012. Vale sempre lembrar que, no ano seguinte, ainda rola o Pré mundial, com mais quatro classificações para as Olimpíadas. Ainda não dá para saber se o Brasil terá todos os seus jogadores no torneio. E agora, sem os EUA no caminho, vale todo e qualquer esforço para reunir nossa força máxima para a competição na Argentina. É a grande chance de voltar aos Jogos. Será que algum azarão é capaz de roubar uma das duas vagas? Vamos dar uma olhada nos nossos rivais.

ARGENTINA – O normal em Pré-Olímpicos é que eles joguem com um time B. Mesmo assim, dentro de casa, são favoritíssimos para ficar com uma das vagas.

REPÚBLICA DOMINICANA – Se contar com todos os NBAs (Ariza, Horford, Villanueva e Garcia), pode ser um rival perigoso. Mas vale lembrar que, na Copa América, os três últimos estavam lá, e eles sequer conseguiram se classificar para o Campeonato Mundial da Turquia.

PORTO RICO – É sempre um adversário imprevisível. No Mundial, conseguiu a proeza de perder para a Costa do Marfim. E não deve contar com Larry Ayuso, que deu chilique e abandonou o grupo antes do torneio. Por outro lado, a seleção tenta fechar com Moncho Monsalve, que certamente colocaria alguma ordem naquela bagunça.

CANADÁ – Está aí outra seleção sobre a qual a gente nunca sabe o que esperar. Heroísmo nas vitórias, vergonha nas derrotas. Não é galinha morta, mas não vejo condição de beliscar uma das vagas.

URUGUAI – O país tem se afundado numa triste crise de estrutura, o que pode prejudicar ainda mais um elenco que até faz uma graça aqui e outra ali, mas não tem peso para brigar no topo.

O grau de dificuldade, claro, vai depender muito de qual elenco vamos levar a Mar Del Plata (e os rivais também). Hoje parece óbvio que o Brasil está acima de todos eles, exceto a Argentina. O problema é que tudo pode ser decidido num jogo de semifinal, e aí não pode haver apagão. A princípio, a missão é até tranquila e soa como obrigação. Mas é melhor esperar para ver. Concorda?

segunda-feira, 13 de setembro de 2010




Quem costuma passar por aqui de vez em quando sabe que eu não levava muita fé nesta seleção americana. Pois ontem eles me calaram e derrubaram os turcos, o nono rival da campanha invicta. Após 16 anos, os Estados Unidos são de novo campeões mundiais e olímpicos. São eles de volta ao topo do mundo no basquete. O título, claro, é incontestável. Fiquei então imaginando os motivos que levaram uma equipe jovem, com talento bem abaixo do grupo de Pequim, a cruzar a estrada sem perder na Turquia.

1) Por favor não entendam este primeiro item como uma tentativa de desmerecer o título (não é), mas das seleções que eu imaginei capazes de bater os americanos, eles só enfrentaram uma: a Lituânia, na semifinal. Espanha, Argentina e Grécia, as outras três semifinalistas de 2006, não cruzaram o caminho desta vez – apesar de eu achar que esta Grécia de hoje também seria presa fácil. Dito isso, vamos aos méritos.

2) Kevin Durant foi monstruoso. MVP justíssimo da competição, o ala do Thunder colocou o time nas costas na maioria das partidas. Foi até curioso ver os EUA jogando desse jeito, com um pontuador destacado, ao contrário do ataque distribuído que vinha sendo a tônica nos últimos anos.

3) Mike Krzyzewski foi genial em todos os aspectos. Não teve medo de abrir mão de Rondo, a princípio um dos astros do time. Não pensou duas vezes em colocar Tyson Chandler atrás até de Kevin Love na rotação. Chandler era o único pivozão do elenco, e Coach K simplesmente assumiu: não tenho pivô. Jogou então com dois armadores o tempo todo na quadra e alas atléticos que corriam a quadra feito loucos. Aproveitou uma rotação frenética com jogadores atléticos para manter a defesa em 100% o tempo todo.

É claro que outros fatores também entram em quadra, mas esses dois últimos foram os principais. Com o poder de decisão do ala e o cérebro privilegiado do técnico, construiu-se a trajetória vitoriosa dos Estados Unidos na Turquia. Estão de parabéns.

domingo, 12 de setembro de 2010

EUA DE NOVO NO TOPO DO MUNDO


Os turcos bem que tentaram, mas não deu. Os americanos estão novamente no topo do mundo. Após a conquista em Pequim, eles voltam a faturar um título mundial. Justíssimo.

UM DOMINGO DE GALA NO BASQUETE




Cada um construiu seus méritos ao longo do caminho. Os americanos, potência do basquete, levaram um time jovem. A Turquia, quase sem tradição, tem jogadores mais cascudos. E as trajetórias foram fantásticas até a grande final deste domingo. Às 15h30, a bola sobe para uma decisão com roteiro cinematográfico: o berço da modalidade enfrentando os donos da casa num ginásio que certamente vai ferver do início ao fim.

Em condições normais, os turcos não deveriam chegar aonde chegaram. Mas o que esta torcida está fazendo em Istambul é brincadeira. Cada um dos 15 mil fãs mereceu ver o desfecho de sábado, com uma virada heroica em cima da Sérvia. Tunçeri, com sua bandeja mágica a meio segundo do fim, virou herói. Erden, com um toco mais mágico ainda no último lance, fechou a tampa. Veja o vídeo com a incrível locução turca:



Na outra semi, os EUA não tiveram moleza para bater a Lituânia, mas controlaram o placar o tempo todo. O que Kevin Durant fez foi muito impressionante. Meteu 17 pontos no primeiro quarto e terminou com 38. É curioso como Mike Krzyzewski não tem o menor pudor de mudar o estilo que o país vinha usando nas últimas competições, com o ataque muito bem distribuído. Agora é bola na mão do Durant, que ele está resolvendo.

Será que vai resolver no domingo também? Não dá para desgrudar da tela o dia todo, desde o Argentina x Espanha às 9h, valendo o quinto lugar, passando pela disputa do bronze às 13h, entre lituanos e sérvios, até chegar à grande final das 15h30.

Um domingo de gala para o basquete, como merece o Campeonato Mundial.

sábado, 11 de setembro de 2010

UM TRIUNFO ANTOLÓGICO


Foi um dos jogos mais incríveis que eu vi nos últimos tempos, com direito a um desfecho para ninguém botar defeito. Turquia 83-82, Tunçeri elevado a status de herói, e o ginásio fervendo.

O RECITAL DE KEVIN DURANT


Não foi fácil para os americanos, mas eles passaram às semis com autoridade. Chegam à final com status de favoritos, mesmo tendo de enfrentar os donos da casa. Kevin Durant deu show.

QUEM VAI PARA A GRANDE FINAL?




Argentina, Espanha e Grécia, semifinalistas há quatro anos, já pularam do barco. Do quarteto de 2006, sobraram os Estados Unidos, com um elenco bem mais jovem que o do torneio no Japão, mas com boas chances de conquistar o título. No lugar das três que ficaram pela estrada, entram Lituânia, Sérvia e Turquia. E acho que são mesmo as melhores seleções que vimos até agora no Campeonato Mundial, não concorda?

A Argentina também conseguiu boas atuações, mas fraquejou nas quartas, então as semifinais estão muito bem entregues. A final que muitos querem é EUA x Turquia, seria o espetáculo mais atrativo para domingo, com duas ótimas seleções disputando o ouro. Mas, sei lá, algo me diz que teremos um empolgante Lituânia x Sérvia na final. Pode ser só sujeira na bola de cristal, mas vamos ver. E você? Quem você acha que avança hoje?

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

O QUE FAZER NO ANO QUE VEM?


A Argentina já ficou pelo caminho, os Estados Unidos seguem firmes. O debate na caixinha já ferveu, mas ainda vale trazer o tema para cá: você torce para os americanos ficarem com o título? Assim eles não precisariam disputar o Pré-Olímpico de Mar Del Plata, e as duas vagas disponíveis para Londres-2012 ficariam bem mais tranquilas para brasileiros e argentinos. Tem gente que acha tudo isso uma besteira, que a nossa seleção tem que se classificar por méritos em vez de ficar torcendo pelas outras equipes.

E aí eu levanto outra bola: imaginando que os EUA não fiquem com o título, seria melhor para o Brasil levar um time mais fraco para Mar Del Plata, já pensando no Pré-Olímpico mundial? Vou tentar explicar a ideia. E adianto que nem tenho muita convicção dela, para falar a verdade, por enquanto é só uma ideia mesmo.

A gente sabe que a NBA costuma encrencar com a liberação de jogadores, né. Leandrinho, Varejão, Splitter e Nenê foram liberados agora para o Mundial, certo? Nenê não jogou, mas os outros três sim, e todos eles passaram por problemas de lesão. É bem possível que os times batam o pé no próximo ano. Suponha que o Brasil faça um esforço, negocie, consiga contar com todos esses jogadores no Pré de Mar Del Plata, e ainda assim fique fora das Olimpíadas - o que seria até natural.

Iríamos para o Pré Mundial de 2012 com a corda no pescoço. E você consegue imaginar a NBA liberando esses atletas pelo terceiro ano seguido? No caso de Leandrinho e Varejão, pelo quarto ano seguido? Se os EUA foram campeões, vale o esforço para reunir todo mundo de novo ano que vem e garantir logo essa vaga. Se não forem, e o Pré de 2011 tiver americanos e argentinos lutando por vagas, contar com nosso elenco completo lá não seria nenhuma garantia e, além disso, criaria um risco muito grande de irmos capengas para a última cartada em 2012. Concorda?

DUELO DE INVICTOS NA SEMIFINAL


Em seis jogos, cinco derrotas e apenas uma vitória, contra a inexpressiva Bulgária. Foi assim, com um vergonhoso 11º lugar, que a Lituânia pagou mico no Eurobasket do ano passado e ficou sem a vaga para o Campeonato Mundial. Mas aí veio a dona Fiba, com esse estranho sistema de convites e, pronto, colocou a equipe no torneio. Ok, entrou pela porta de trás. E para repetir na Turquia a semifinal olímpica de 2008, seria preciso dar uma guinada. Pois a Lituânia deu. Fez uma faxina no elenco, trocou cinco jogadores, e o resultado está aí: campanha brilhante, invicta em sete partidas, incluindo vitórias espetaculares sobre cachorros grandes como Espanha e Argentina.

Corta para o outro lado. Sem nenhum dos 12 olímpicos, os Estados Unidos montaram um time jovem, com o que deu para arrumar. Jogaram a bola na mão de Kevin Durant, criaram um esquema que claramente privilegia o perímetro e adicionaram ao caldeirão duas características básicas do basquete americano: defesa forte e muita velocidade. Até agora, deu certo. Ainda acho que é uma equipe muito longe da perfeição, e o jogo contra a Rússia deixou isso bem claro. Mas que são perigosos, são, só quem é bobo não vê. Ainda mais agora que espanhóis e argentinos já pularam fora.

Os lituanos continuam no caminho, e está aí uma semifinal de arrepiar, pode anotar na agenda: amanhã, 13h. Em quem você aposta para o jogão de sábado? Diga aí.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

NÃO É QUE ACHARAM A RECEITA?


Depois de marcar 20 pontos no primeiro jogo e mais de 30 nos cinco seguintes, Scola bateu no muro. O muro da Lituânia, que deu show e atropelou os nossos vizinhos sem piedade: 104-85.

NÃO TEM MAIS MOLEZA


O primeiro tempo foi enjoado, o segundo foi mais tranquilo, mas ainda assim os EUA sofreram para bater os russos. O triunfo por 89-79 põe os americanos na semifinal contra a Lituânia.

HERÓI OU VILÃO: A LINHA TÊNUE


Quando recebeu a bola com o placar empatado e 25 segundos no relógio, Milos Teodosic tinha 1/7 nos arremessos de três pontos. O armador da Sérvia buscou o conforto de segurar a bola o máximo possível, e assim um ataque errado, na pior das hipóteses, levaria o jogo contra a Espanha à prorrogação. Neste tempo em que ele ficou batendo bola, Velickovic, melhor jogador sérvio na partida, subiu duas vezes para fazer o bloqueio. Teodosic ignorou. A troca o deixou no um-contra-um com Jorge Garbajosa, mais alto e mais lento, o que dificultaria um arremesso, mas poderia facilitar uma infiltração. Pois o MVP da Euroliga chutou para escanteio qualquer tática e soltou um pombo sem asa do meio da rua, bem atrás da linha de três.

Corta. Se a Espanha vence o jogo na prorrogação, ele certamente seria crucificado. Não só por essa decisão tresloucada, mas pela atuação ruim nas oitavas contra a Croácia. O bom trabalho da primeira fase cairia por terra, e a última impressão o transformaria em um dos vilões do Mundial.



Só que aquela bola caiu. E, haja o que houver daqui em diante, Teodosic já virou herói. Gastou 20 segundos sem armar nada, chutou do meio da rua, fez tudo errado... mas bola que cai não se contesta. O cara converteu o arremesso, garantiu a vitória e, pronto, saiu festejando. O país está feliz da vida com ele. Segue o jogo, vamos em frente.

O NÃO-GARRAFÃO DO BRASIL


"Perdemos os três", lamentou o assistente Fernando Duró antes de pegar o avião e deixar a Turquia na quarta-feira. Ele se referia aos três principais pivôs da seleção, todos alvejados por lesões no Mundial. Nenê foi cortado; Varejão não voltou ao normal após o problema no tornozelo; e Tiago Splitter, além da contratura na coxa esquerda na fase de preparação, sentiu dores na direita no jogo contra a Eslovênia. O Brasil omitiu a lesão e só agora revelou que ele jogou no sacrifício contra a Croácia e a Argentina. Isso explica o fato de ter começado no contra os hermanos, justamente quando precisava estar em seu melhor para enfrentar Luis Scola.

Eu ainda acrescentaria uma quarta perda nessa história, bem antes do Mundial: Paulão Prestes, que machucou o pé e não pôde ir à Turquia. Ele seria a melhor opção para substituir os três principais nomes do garrafão. Resumindo: dos nossos quatro melhores pivôs, dois não foram (Nenê e Paulão), e dois jogaram baleados (Splitter e Varejão). O que deveria ser nosso ponto mais forte acabou caindo por terra.

Nem é minha intenção ficar justificando a eliminação (já disse que, hoje, as oitavas de final podem ser o nosso lugar de fato), mas tem gente que decreta o "fiasco" sem levar em conta certos fatores. Não foi só isso, claro. Mas que pesou, pesou. E muito.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

FÓRUM: TURQUIA 95 x 68 ESLOVÊNIA


Está difícil segurar os turcos. Contra a Eslovênia, que venceu o Brasil, os donos da casa nem titubearam e deram uma surra. Já estão nas semifinais e, pelovisto, querem mais. E aí, será?

FÓRUM: SÉRVIA 92 x 89 ESPANHA


Eis que a atual campeã já diz adeus ao sonho do bi. Com um arremesso espetacular a três segundos do fim, Teodosic deu um golpe certeiro na Espanha. Os sérvios seguem fortalecidos.




Em um jogo tenso como foi o Brasil x Argentina de terça-feira, é natural que a derrota nos faça xingar, chutar a cadeira e maldizer até a quinta geração do último reserva. É bom, aliás, que o basquete desperte esse tipo de paixão, significa que a modalidade está viva no país. Sobre o jogo em si, tenho pouco a acrescentar agora – vocês já deram conta do recado com sobras nos mais de 200 comentários da caixinha. Vou dizer apenas que:

1) Scola é, de fato, um monstro. No basquete Fiba, está entre os melhores de todos os tempos. O que ele vem fazendo neste Mundial é um verdadeiro privilégio para quem assiste.

2) Não foi só Scola que eliminou o Brasil. Foi o plano de jogo de Sergio Hernández (dê uma olhada na frase do Prigioni ali embaixo), foi a nossa defesa com mais falhas que o normal, foram as peças extras da Argentina no quarto período (Jasen, Gutiérrez), enquanto as nossas deixaram um estupendo Marcelinho Huertas quase sozinho. Aliás, o choro de Huertas no fim mostra caráter e só ajuda a reforçar a certeza de que temos um grande armador na seleção.

3) Como já foi dito aqui, não temos um executor. Não é Huertas que deve se virar com 32 pontos. Quem deveria puxar nosso ataque chama-se Leandrinho, mas nossa expectativa em relação a ele parece estar acima do que ele realmente é. Não quero aqui crucificar o atleta; só constato que nosso camisa 10 não tem perfil de jogador decisivo, ou até agora não mostrou, nem na NBA, nem na seleção. Os outros três possíveis definidores também não apareceram: Machado jogou pouco tempo (17 minutos); Splitter esteve apagado; e Varejão, nosso maior destaque na Copa América, atuou machucado durante todo o Mundial. Um Anderson 100% mudaria muito o panorama, acreditem.

Dito isso sobre o jogo, é hora de chegar para trás e olhar o cenário com um certo afastamento. A verdade é que ainda não dá para cobrar da seleção um passo maior que esse. No primeiro campeonato sob o comando de Rubén Magnano, qual foi o saldo?

Enrolamos contra as babas (Irã e Tunísia), atropelamos a Croácia e jogamos de igual para igual com três seleções que teoricamente estão muito acima de nós: Estados Unidos, Eslovênia e Argentina. Ah, mas perdemos os três jogos. É, perdemos. Talvez porque os hermanos e os americanos estejam de mãos dadas no topo do ranking da Fiba, e talvez porque os eslovenos sejam descendentes da escola que conquistou metade dos últimos 10 Mundiais (sendo dois dos últimos três). O que a gente esperava? Atropelar esse povo todo sem piedade?

É claro que precisamos ser exigentes, precisamos cobrar sempre, até porque os próprios jogadores se cobram e um técnico campeão olímpico vai fazer o mesmo. Mas já ouvi por aí gente dizendo que o Brasil "fez a vergonha de sempre" na Turquia. Numa hora dessas seria bom pegar uma máquina do tempo e voltar alguns anos para recordar o tamanho do buraco onde tínhamos nos metido. De dois anos para cá, temos sem dúvida outro Brasil. Só não podemos achar que esse Brasil, apesar de nitidamente melhor, vai dar passos gigantes. Estamos no início de um processo. É preciso conhecer o nosso lugar. Não há nenhuma vergonha nisso.