quinta-feira, 16 de abril de 2009
TRÊS PONTOS - OS MOTIVOS
A partir das estatísticas mostradas nos dois primeiros textos, dá para dizer que, no terreno dos clubes, o brasileiro chuta muito de três e não chuta tão bem assim - tanto na base da pirâmide quanto na elite - para justificar tamanho volume. É claro que isso não é de hoje e não apareceu do nada. Por isso quero convidar os amigos a discutir os motivos que nos levaram a arremessar tanto de longa distância. Eu vejo quatro razões principais.
1) A herança de 1987
O debate sobre a origem do problema sempre aponta para a final do Pan de Indianápolis, quando o Brasi destronou os universitários americanos com os chutes de três de Marcel e - principalmente - Oscar. Só não podemos aqui ignorar alguns aspectos. Primeiro, aquele foi um jogo de exceção, em que o Brasil chegou a ficar 22 pontos atrás. Com bons chutadores em quadra, o time de Ary Vidal adotou uma tática de tudo-ou-nada, justificável para aquela situação. Em 1987, a linha de três tinha sido implantada apenas dois anos antes, e o Brasil lançou mão daquela novidade para surpreender os adversários.
Adotar esta solução só foi possível porque Oscar era um mestre nos chutes de fora. A conquista fez dele o nome mais famoso da modalidade, e a geração que está em quadra hoje começou a jogar basquete com isso na cabeça: nosso grande ídolo é fera nos chutes de três. A culpa, lógico, não foi do Oscar, e sim de técnicos e atletas que vieram depois achando que podiam repetir a receita com o pé nas costas, ignorando outros fundamentos.
2) Defesas muito frágeis
na zona do perímetro
Com raríssimas exceções, o basquete brasileiro não sabe defender no perímetro. E da mesma forma que os EUA demoraram um pouco para se adaptar aos chutes de três, nós ainda vivemos uma espécie de ranço da marcação por zona. Mesmo quando a defesa é individual, tem sempre alguém livre perto da linha de três.
Quando o cara recebe a bola e se vê desmarcado, ele não pensa: 1) se tem alguém no rebote para o caso de um erro; 2) se o aproveitamento dele de longa distância é bom o suficiente para converter aquela cesta; 3) se o posicionamento da defesa permite uma tentativa de infiltração ou um passe para alguém mais capacitado. É bola para o alto, e vamos em frente.
3) Falta de pulso firme e orientação dos técnicos
Mesmo quando a defesa é boa, estamos acostumados a ver tiros de três precipitados. O cara chuta marcado por dois ou três rivais, chuta com 20s no relógio de arremesso, chuta no meio de um contra-ataque. Aí cabe ao treinador impedir. Sei que não é tarefa simples mudar a mentalidade do atleta, mas em alguns casos é preciso ter pulso, dar bronca, ser duro. Outro dia citei aqui um jogo em que o Bauru tentou 16 bolas de três no primeiro tempo e errou simplesmente todas. Na volta do vestiário, tentou mais quatro nos três minutos iniciais do terceiro quarto. É inconcebível.
4) Formação deficiente
de atletas e treinadores
Se este quarto ponto for solucionado, anularemos os outros três. A maior culpa, como sempre, não é do atleta ou do técnico. É do sistema que não sabe formá-los. Se a nossa confederação montasse um programa nacional que fosse de fato consistente, capaz de dar fundamentos à garotada e carga tática aos treinadores, resolveríamos boa parte dos problemas. Agora que o campeonato está na mão dos clubes, a CBB não tem mais desculpa para não fazer isso. É preciso atacar o flagelo da formação o quanto antes, com muito intercâmbio, capacitação de professores e implantação de uma filosofia capaz de ensinar o jogo moderno aos jovens atletas no país inteiro.
O resultado não vai aparecer agora, nem no ano que vem, nem nas Olimpíadas de 2012. É coisa de longo prazo. Mas para transformar, é preciso começar. E quanto mais rápido, melhor.
Amanhã, no último dia da série, o debate migra dos clubes para as seleções, com um novo levantamento estatístico e mais análises.
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9 comentários:
O melhor agente para mudança seria alguma equipe começar a ter sucesso saindo deste molde.
Se um dia tivermos um time que pratique um basquete um pouco mais sólido nos fundamentos e, por causa disso, comece a ganhar tudo, os outros times irão correndo copiar.
Pra mim as comissões técnicas aqui no Brasil se satisfazem com pouco, vêem os times jogando um basquete sem muita disciplina tática e deixam por isso mesmo, investindo mais tempo em outras áreas como, por exemplo, pressionar a arbitragem.
Rodrigo,
Concordo com todos os pontos, mas uma coisa que você disse e que me deixa irritado ao assistir um jogo é quando numa transição o jogador que leva a bola, às vezes no 1 contra 1, ou até 2 contra 1 pára (não consigo escrever sem acento :-D) na linha de três como se tivesse um escudo invisível e manda a bola de três.
Ele prefere uma bola onde terá não mais de 45%, em média, de chance de acerto, ao invés de tentar a infiltração ou uma bola de dois mais próxima onde o nível de acerto pode chegar a quase o dobro disso.
Dá a impressão que ensinaram para ele que quem vence o jogo não é o time que marca mais pontos, mas aquele que acerta mais chutes de 3.
Abraços, Ben Hur
Rodrigo
Que bom que vc enfatizou algo que eu fiz questão de ressltar no sue Psot anterior: tática e técnicos
Primeiro não são só os brasileiros que nao sabem marcar o perímetro , vide Phoenix Suns , trocentas vezes eliminado na mesma tática diante do Spurs.
Nós brasileiros poderíamos ganhar jogos e sereos melhor em campeonatos, trabalhando um jogo ofensivo variado perímetro e garrafão.
Aqui volta a questão da formação ténico e tática, nossos "mestres" que vem trabalhando há décadas nossos jovens jogadores,quando veem chegar um cara maior de 2,5 metros logo botam o cara no pivÕ de costas para cestas e pronto;
Hoje todos sabem que precisamos de laterais de mais de 2,5 m que saibam bater a bola e infiltrar além de arremesar - (não que só pensem que sabe como o Marquinhos por exemplo - vide sua frustrada passagem no exterior).
Mas nossos ténicos até hoje insistiram em por grandalhões como postes e não investem na habilidade.
Chego a dizer que se o Spliter continuasse aqui no Brasil não seria mais que um Olívia ou um Estevão da vida.
Nada contra os dois mas foram algusn exemplos de caras altos que poderiam ser trabalhados pelo biotipo para serem mais que simples pivôs fortes e durões(ambos com limitações admito isso são só exemplos).
Quanto a mudança na estrutura do esporte coordenação para mudar isso o buraco é muito mais embaixo
Primeiro porque os integrantes das comissões anteriores foram alçados a posições de administração técnico e tática, tanto na NBB(Lula) como na CBB (Barbosa)
Ou seja precisaríamos que eles admitissem anos de erros de conceito táticos deles próprios(incompetencia) para que deem chance a novos técnicos ocm liberdade para implantar novas filosofias
De qualquer forma admitir isso já seria um grande passo
Rodrigo, se me permite vou mudar totalmente de assunto. A algum tempo achei na net o formato do seu blog qndo ele começou, em setempro de 2002, e conforme vai me dando tempo, estou analisando mes a mes, todos os posts colocados lah de setembro de 2002 ate 2005, na verdade agora q estou começando 2004.
Mais está sendo otimo lembrar e ate mesmo saber de muitas coisas q acabam passando com o tempo, como por exemplo, a maquina q tinha na mao os Kings liderados por Webber, e ver q em 2002/2003 certamente a final teria sido outra e nao entre Spurs e Nets se Webber nao tivesse se machucado, tambem foi bom lembrar de Stockon se aposentando por cima, ainda liderando a NBA em assistencias e correndo como um garoto de 20 anos sendo q ele jah tinha 40, ver Malone ir para L.A junto com Payton e montar um Dream Team que fracassou na final com Shaq e kobe, ver todas as brigas entre esses dois astros do Lakers. Ver a estreia dos brasileiros Nene e leandrinho, ver q algum dia Stive Francis jah foi um dos reis da lida, ver a estreia de James, q jah era fenomeno antes mesmo de ingreçar na NBA, ver q qndo entrou na liga, muito pouco se dava por Wade, e muito se deu por alguns q nunca houvimos falar. Ver Ming levando um bocado de tempo ate pegar no tranco, o final de carreira de MJ fracassando na tentativa q levar seu time aos playofs, ver Pippen sendo muito util em Portland e seu retorno nao muito promissor para Chicago, ver um Nets montando uma maquina tendo Kidd como grande genio da armaçao na epoca vendo seus planos irem por agua a baixo com o drama de Alonso Morning. Regie Miller de aposentando pelo Indiana. Lembrar da maquina q os EUA levaram para porto rico em 2003 no pré de atenas, mesmo sem contar com Kobe e Webber q eram nomes certos e nao foram por contusao, ver q Shaq teria ido se o treinador fosse Phil Jackson, e lembrar do que sobrou para ir para as olimpiadas um ano depois. Ver todos os problemas causados por Iverson e o qnto ele jogava basquete. Jogadores que nao se dava nada e hj sao peças fundamentais em seus times, ou foram ate bem pouco tempo atras, enfim, qndo da eu estou lah recordando esses fatos. E esta sendo otimo lembrar de td isso.
Rodrigo...
gostaria de parabenizá-lo pela reportagem especial desta semana e principalmente as análises pq os brasileiros adoram arremessar de três
sensacional
e realmente muito tem a ver com a vitória épica de Oscar em companhia no Pan de 87
boas vibrações a todos
Legal, Netto. Não sei se eu teria coragem de revisitar todos esses textos, rs. Ali no menu lateral tem uma seção "museu do rebote", com todos os formatos de 2002 até hoje. Abração!
otimo texto e analise
Oi Rodrigo
Somente hoje que estou lendo estes tópicos da investigação. Uma coisa me ocorreu:
a maioria das movimentações das equipes obedecem visivelmente a um padrão. Muitos treinadores, no treinamento destas movimentações, preveem, também, as alternativas de arremessos de 3 pontos.
Observo que estas geralmente são as alternativas finais (ou opção) do movimento, no tempo final de posse.
Neste caso, as dificuldades de vencer as defesas (que nem tão boas são) vão levando a consumação do ataque para a opção do arremesso de 3 pontos.
abração!
no meu modo ver o NBB tem altos indices de chute nao pelaherança de 87 mas sim pela deficiencia da defesa Brasileira (ex. é que varios times do nacional marcam zona )e o jogador barsileiro tem a seguinte mentalidade
"to livre vo chuta"
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