A ATUAÇÃO QUE MAIS ME MARCOU

Após abrir 2-0 na final de 1997 da NBA, o Chicago Bulls parecia caminhar a passos largos para o quinto título, quando o Utah Jazz promoveu uma reviravolta na série. A equipe ganhou duas vezes seguidas em casa, com direito a atuações memoráveis de John Stockton. No jogo 5, também em Salt Lake City, a torcida fanática transformou o Delta Center em um caldeirão, confiante na virada. Como se não bastasse o baque das duas derrotas, os Bulls tinham um Michael Jordan com gripe, febre, dor de cabeça, rosto inchado e sem dormir, sofrendo os efeitos de um vírus estomacal que o fez vomitar o dia inteiro. Sua atuação naquela partida, nitidamente debilitado, foi além dos limites humanos. Dos jogos que eu vi ao vivo pela TV ao longo
de toda a sua carreira, talvez tenha sido o que mais me marcou.

Para escrever este texto, peguei o DVD na noite de ontem e revi a partida inteira. Deve ser a quarta ou quinta vez que vejo, e a cada reprise fico mais impressionado. É claro que, em termos de números, não dá para comparar com aqueles 63 pontos contra o Boston, ou 69 contra o Cleveland. Mas estes eu só vi depois, em VT. Aquela exibição contra o Jazz eu acompanhei ao vivo, no sofá, incrédulo enquanto aquele homem doente fazia chover na TV.



A ideia de Phil Jackson era poupar Jordan ao máximo naquela noite, mas o resto do time não parecia disposto a ajudar. Nos primeiros quatro minutos, só ele pontuou, e o Utah abriu 9-4. Logo depois, a diferença pulou para 23-9, e chegou a 16 no segundo quarto. Michael percebeu que era preciso jogar sério. Anotou 17 pontos só no segundo período e equilibrou as ações.

Após descansar boa parte da terceira parcial, fazendo apenas dois pontos, Jordan viu o adversário abrir cinco na virada para os últimos 12 minutos. É aí que a coisa começa a ficar realmente impressionante. No início do último quarto, o craque se agiganta:

- Corte para a direita na lateral, cesta com marcação dupla.

- Deslocamento rápido e fadeaway certeiro da cabeça do garrafão.

- Rebote na disputa com Ostertag e assistência para o outro lado da quadra, onde Kukoc acerta de três.

- Arremesso de três dele próprio.

Estes quatro lances aconteceram em só três minutos e fizeram a vantagem do Utah cair de oito pontos para um empate em 77-77.

Nos últimos dois minutos, quando obviamente estava ainda mais castigado pela condição física precária, Jordan foi decisivo.

- Após uma finta em Bryon Russell, soltou mais um fadeaway mortal e cortou a vantagem do Utah Jazz para apenas um ponto.

- Com 45 segundos no relógio, um lance livre convertido empatou o placar em 85-85. O segundo ele errou, mas ficou com o rebote. Na sequência da jogada, marcado por Hornacek, Jordan atirou a bomba de três pontos a 25 segundos do fim. Era o golpe final.

Ostertag ainda enterrou para diminuir a diferença para um ponto, com 15 segundos, mas o Utah inexplicavelmente não fez falta e, de mão em mão, a bola chegou até Luc Longley, que ampliou para 90-87. Faltavam seis segundos para terminar e, no pedido de tempo de Jerry Sloan, nasceu a cena famosa: Jordan caminhou para o banco, destruído, nos braços de Pippen, carregando com ele uma incrível linha estatística de 38 pontos, sete rebotes, cinco assistências, três roubadas e um toco.

Diante da televisão, em 1997, eu mal acreditava no que via. Ontem à noite, 12 anos depois, continuava difícil acreditar.

E você, tem seu jogo preferido de Jordan? Diga aí na caixinha.