ALGUNS PENSAMENTOS

Como a caixinha já deixou claro ontem, há pontos positivos e negativos para a gente extrair da partida contra Porto Rico. Mesmo sem Leandrinho, o Brasil arrancou forças sabe-se lá de onde para cortar uma diferença de 19 pontos para quatro. A cesta espetacular de Varejão a 12 segundos do fim garantiu o primeiro lugar geral e nos fez escapar da Argentina nas semifinais deste sábado, às 19h30. Ou seja, o time mostrou maturidade num momento difícil, em que parecia perder a cabeça, e ignorou uma torcida fanática para cumprir seu objetivo.

Dito isso, e dito também que eu tenho sido praticamente só elogios à seleção até agora na Copa América, vou me permitir ser um pouco ranzinza desta vez. Em primeiro lugar, achei exagerada a reação dos jogadores, aos pulos e gritos no meio da quadra, como se tivessem conquistado um título, sendo que tinham acabado de perder o primeiro jogo dentro da competição.



Ok, a reação foi incrível e a diferença caiu para o tal limite de cinco pontos. Até entendo esta alegria. Mas o que o resultado significa? Em resumo, significa que escapamos da Argentina nas semis, e pronto. Ficar em primeiro lugar não quer dizer nada, não dá vantagem de jogar em casa, de jogar pelo empate ou algo do tipo. A única vantagem é pegar um adversário teoricamente mais fraco. Além da moral pela reação, foi só isso que conquistamos.

Não estou dentro da cabeça dos atletas, acredito quando eles falam que festejaram apenas a reação e o fato de terem ficado em primeiro. Mas será que os argentinos também pensam assim? Imagino os caras no hotel, vendo a partida pela TV e pensando algo como "esses caras estão vibrando desse jeito só porque escaparam da gente?". Ou os canadenses pensando "a festa toda é porque vão nos enfrentar e nos consideram mais fracos?".

Pode ser bobagem, mas vendo ali do ginásio, achei um pouco exagerada toda essa comoção diante de uma – sim, não se esqueçam – derrota do Brasil.

E se a vantagem tirada foi de 19 pontos, isso é fruto de um basquete muito ruim praticado no segundo e no terceiro períodos. Sem Leandrinho, nosso ataque caiu muito e ficou meio perdido. A única opção era jogar a bola dentro do garrafão para Varejão e Splitter – isso, sim, continua funcionando muito bem e foi o que nos fez reagir. Mas antes disso o time caiu na armadilha do rival e desandou a chutar de três de qualquer jeito. Foram 21 arremessos de fora, com apenas oito acertos.

Do outro lado da quadra, a marcação de perímetro deu liberdade para os chutadores portorriquenhos. Acertaram 12 bolas – em todo o campeonato, só fizeram mais que isso (15) contra a República Dominicana, num jogo em que a defesa inexistiu dos dois lados.

Se é contra um adversário um pouquinho menos tresloucado, eles botariam a bola embaixo do braço e a missão de tirar uma diferença tão grande seria muito mais complicada.

Em todo caso, estamos nas semis e agora enfrentamos o Canadá. Promessa de jogo complicado, mas temos mais time, mesmo que Leandrinho não possa atuar. Só não podemos fazer da reação contra Porto Rico a oitava maravilha do mundo, apagando nossos erros e nos permitindo esquecer, por exemplo, que o placar final do jogo foi 86-82 para eles, não para nós.