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No longo papo que tive com Márcio Cipriano, em Brasília, nem tudo coube na reportagem do Globoesporte.com. Então resolvi colocar aqui algumas coisas bacanas que ele falou sobre a infância em São Paulo, as paixões pela música e pelos livros, a avaliação do NBB e, principalmente, boas opiniões sobre categorias de base.
- Infância pobre, mas feliz
- Passei a infância no Grajaú e a adolescência no Capão Redondo [áreas pobres de São Paulo]. Eu lembro de muita brincadeira de rua, jogava muito futebol. Naquela época não tinha computador, videogame. Tinha o Atari, mas eu não tinha grana para comprar. Minha infância foi muito feliz. Passamos fome, mas felizes, sabe como é? O basquete apareceu quando eu tinha 13 anos, nas aulas de Educação Física. Quem participava era liberado de certas aulas. Então eu ia, né, até queimado eu jogava (risos).
>>> "O técnico que forma atletas tem que ser mais valorizado que o da seleção brasileira. Se aquele cara da base for bom, fica muito mais fácil para os outros trabalharem"
- A música e a literatura
- Eu saio na noite desde os 8 anos. Meu avô tocava jazz em casas noturnas de São Paulo, meu tio era sambista. O rap eu sempre escutei, a gente brincava de fazer freestyle no buzão, mas nunca tinha me arriscado. Em Ribeirão fiz um rap, ficou bacana, comecei a tomar gosto. E quando comecei a escrever letras, tive necessidade de leitura. O rap abriu minha cabeça para leitura, pesquisas, internet, é outro mundo. Gosto muito de ler biografias, prefiro histórias verídicas. E adoro poemas. O rap é
o poema musicado, as pessoas às vezes se esquecem disso.
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- O NBB é como se fosse a saída do coma. É claro que o campeonato não foi perfeito, sempre tem o que melhorar, mas do jeito que as coisas estavam acontecendo... teve um que não acabou, o outro teve racha, no outro a gente tinha que viajar de ônibus. Agora foi o primeiro passo, e agora não pode regredir mais.
- Categorias de base
- O técnico que forma jogadores tem que ser mais valorizado que o da seleção brasileira. Se aquele cara da base for bom, fica muito mais fácil para os outros treinadores trabalharem. Hoje os moleques do juvenil entram no jogo com o olho arregalado, com medo. Não é culpa deles, mas de quem forma. Um cara de 17 anos hoje tem que ser um adulto, você vê o Ricky Rubio, que foi às Olimpíadas. Apanhou, caiu e levantou.
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- Os caras não têm paciência para treinar pivô no Brasil. A posição de pivô ficou até pejorativa. Você vai jogar, e os caras dizem: "Ah, o pivô do meu time não pensa". É uma brincadeira, mas está incutida no subconsciente das pessoas. Então o cara que é grande na base não quer ser pivô, quer jogar aberto porque sabe que
é isso que dá ibope. Pivô é difícil para caramba, são poucos
atletas aqui no Brasil que jogam de costas para a cesta.
6 comentários:
Muito interessante o que ele falou sobre os garotos grandes da categoria de base. Realmente, vejo isso acontecer aqui na minha cidade tabém, todo cara grande, que joga de pivo, gostaria mesmo é de estar jogando de ala... Ninguém quer fazer o trabalho sujo, jogar defesa, pegar rebotes, a garotada quer ser o scorer, bater pra dentro, arremesar de 3...
Legal demais o que ele disse sobre a posição de pivô. A fama do "grande e bobo" está em todo lugar, desde os meninos que não querem virar pivô até os técnicos que não tem paciência/competência para treiná-los.
E curioso que apesar disso os maiores nomes do basquete brasileiro no exterior hoje são quase exclusivamente pivôs: Varejão, Splitter e Nenê. Sem contar a esperança que muita gente tem no Paulão.
a entrevista ficou ótima, e esse post também, Rodrigo. Valeu a correria e trabalho que deu! estão de parabéns, você e o Cipriano, que apesar da fama de "pedreiro" entre os torcedores, é um cara muito gente boa, amigável e inteligente
"Capão Redondo [áreas pobres de São Paulo]."
Lamentável essa mania de glorificar a pobreza no Brasil. Se o cara não foi pobre logo ele não presta.
Concordo plenamente com o que ele falou sobre valorizar a posicao de pivo. Realmente no Brasil sao poucos os que jogam de costa pra cestas. E menos ainda os tecnicos que ensinam e jogam com pivos, tanto na base quanto no adulto. Essa mentalidade que tem que mudar no nosso basquete
Quem está valorizando a pobreza?
Acho que alguns não entenderam direito a matéra.
Ele não tem culpa de nascer no Capão Redondo ou no Grajau,e se as pessoas se destacam não é por que são daqui ou de lá,e simplesmente pelo seu esforço e talento!!E sobre os pivôs ele esta certíssimo,precisa-se de mais atenção nessa area mesmo!!
E aqui em Ribeirão conhecemos ele não como "Pedreiro" mas sim como "Salmo 91"(Mil cairão ao teu lado, e dez mil à tua direita)Dominando o Garrafão!!hahahaahahaha!!!
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