segunda-feira, 22 de junho de 2009

A VOZ DE CIPRIANO




No longo papo que tive com Márcio Cipriano, em Brasília, nem tudo coube na reportagem do Globoesporte.com. Então resolvi colocar aqui algumas coisas bacanas que ele falou sobre a infância em São Paulo, as paixões pela música e pelos livros, a avaliação do NBB e, principalmente, boas opiniões sobre categorias de base.

- Infância pobre, mas feliz
- Passei a infância no Grajaú e a adolescência no Capão Redondo [áreas pobres de São Paulo]. Eu lembro de muita brincadeira de rua, jogava muito futebol. Naquela época não tinha computador, videogame. Tinha o Atari, mas eu não tinha grana para comprar. Minha infância foi muito feliz. Passamos fome, mas felizes, sabe como é? O basquete apareceu quando eu tinha 13 anos, nas aulas de Educação Física. Quem participava era liberado de certas aulas. Então eu ia, né, até queimado eu jogava (risos).

>>> "O técnico que forma atletas tem que ser mais valorizado que o da seleção brasileira. Se aquele cara da base for bom, fica muito mais fácil para os outros trabalharem"

- A música e a literatura
- Eu saio na noite desde os 8 anos. Meu avô tocava jazz em casas noturnas de São Paulo, meu tio era sambista. O rap eu sempre escutei, a gente brincava de fazer freestyle no buzão, mas nunca tinha me arriscado. Em Ribeirão fiz um rap, ficou bacana, comecei a tomar gosto. E quando comecei a escrever letras, tive necessidade de leitura. O rap abriu minha cabeça para leitura, pesquisas, internet, é outro mundo. Gosto muito de ler biografias, prefiro histórias verídicas. E adoro poemas. O rap é
o poema musicado, as pessoas às vezes se esquecem disso.

- Novo Basquete Brasil
- O NBB é como se fosse a saída do coma. É claro que o campeonato não foi perfeito, sempre tem o que melhorar, mas do jeito que as coisas estavam acontecendo... teve um que não acabou, o outro teve racha, no outro a gente tinha que viajar de ônibus. Agora foi o primeiro passo, e agora não pode regredir mais.

- Categorias de base
- O técnico que forma jogadores tem que ser mais valorizado que o da seleção brasileira. Se aquele cara da base for bom, fica muito mais fácil para os outros treinadores trabalharem. Hoje os moleques do juvenil entram no jogo com o olho arregalado, com medo. Não é culpa deles, mas de quem forma. Um cara de 17 anos hoje tem que ser um adulto, você vê o Ricky Rubio, que foi às Olimpíadas. Apanhou, caiu e levantou.

- Treinamento para pivôs
- Os caras não têm paciência para treinar pivô no Brasil. A posição de pivô ficou até pejorativa. Você vai jogar, e os caras dizem: "Ah, o pivô do meu time não pensa". É uma brincadeira, mas está incutida no subconsciente das pessoas. Então o cara que é grande na base não quer ser pivô, quer jogar aberto porque sabe que
é isso que dá ibope. Pivô é difícil para caramba, são poucos
atletas aqui no Brasil que jogam de costas para a cesta.

6 comentários:

ARROZ_ disse...

Muito interessante o que ele falou sobre os garotos grandes da categoria de base. Realmente, vejo isso acontecer aqui na minha cidade tabém, todo cara grande, que joga de pivo, gostaria mesmo é de estar jogando de ala... Ninguém quer fazer o trabalho sujo, jogar defesa, pegar rebotes, a garotada quer ser o scorer, bater pra dentro, arremesar de 3...

Denis disse...

Legal demais o que ele disse sobre a posição de pivô. A fama do "grande e bobo" está em todo lugar, desde os meninos que não querem virar pivô até os técnicos que não tem paciência/competência para treiná-los.

E curioso que apesar disso os maiores nomes do basquete brasileiro no exterior hoje são quase exclusivamente pivôs: Varejão, Splitter e Nenê. Sem contar a esperança que muita gente tem no Paulão.

Adriano disse...

a entrevista ficou ótima, e esse post também, Rodrigo. Valeu a correria e trabalho que deu! estão de parabéns, você e o Cipriano, que apesar da fama de "pedreiro" entre os torcedores, é um cara muito gente boa, amigável e inteligente

Paulo - Urca RJ disse...

"Capão Redondo [áreas pobres de São Paulo]."

Lamentável essa mania de glorificar a pobreza no Brasil. Se o cara não foi pobre logo ele não presta.

Anônimo disse...

Concordo plenamente com o que ele falou sobre valorizar a posicao de pivo. Realmente no Brasil sao poucos os que jogam de costa pra cestas. E menos ainda os tecnicos que ensinam e jogam com pivos, tanto na base quanto no adulto. Essa mentalidade que tem que mudar no nosso basquete

Junior RP disse...

Quem está valorizando a pobreza?
Acho que alguns não entenderam direito a matéra.
Ele não tem culpa de nascer no Capão Redondo ou no Grajau,e se as pessoas se destacam não é por que são daqui ou de lá,e simplesmente pelo seu esforço e talento!!E sobre os pivôs ele esta certíssimo,precisa-se de mais atenção nessa area mesmo!!
E aqui em Ribeirão conhecemos ele não como "Pedreiro" mas sim como "Salmo 91"(Mil cairão ao teu lado, e dez mil à tua direita)Dominando o Garrafão!!hahahaahahaha!!!