O EXEMPLO DE ARKANSAS TECH

De Russellville

Para lotar um modesto estádio de futebol, a pequena Russellville, no estado do Arkansas, teria de convocar a população inteira. Com 28 mil habitantes, a cidade é conhecida pela sua usina nuclear e pela sua universidade, a Arkansas Tech. Bem, a usina a gente deixa para lá, mas da universidade dá para tirar inúmeras lições. E se o nosso assunto é basquete, vamos a ele. Um rápido e curto passeio pelo campus já é o bastante para perceber que a equipe feminina da Tech, na Divisão 2 da NCAA, conta com uma estrutura de dar inveja à grande maioria dos clubes no Brasil.



Editei o vídeo acima para vocês terem uma ideia dessa estrutura. Aproveitando tudo isso no time feminino – e trabalhando duro – estão quatro brasileiros: o assistente técnico Julio Pacheco (fiel escudeiro do experiente e competente treinador Dave Wilbers)
e as atletas Natália Santos, Taise da Silva e Samanta Ludwig.

O belíssimo ginásio serve ainda ao programa do vôlei (também com brasileiras no elenco) e tem capacidade para 3.500 torcedores na arquibancada, além do piso, das tabelas e
dos vestiários de alto nível. As atletas têm à disposição uma enorme academia de ginástica, sala de fisioterapia, quadras cobertas e vasto material de trabalho – uniforme de jogo, de treino, de aquecimento, tênis, tudo de primeira linha. Elas moram dentro do campus, em apartamentos bem equipados e bancados pela faculdade, sem falar no ponto que talvez seja o mais importante: uma educação de qualidade no ensino superior.



Voltando ao basquete, a noite de segunda-feira foi a abertura da temporada, e as meninas da Tech venceram Central Baptist sem dificuldades por 108-51. O adversário era bem frágil, mas ainda assim dá para notar grandes diferenças em relação ao Brasil.

A começar por uma das nossas maiores feridas: os fundamentos. Mesmo jovens, as jogadoras em Russellville raramente cometem erros bobos, não desperdiçam bandejas, sabem o que fazer na defesa, e por aí vai. A disciplina tática é seguida à risca, com marcação forte o tempo todo, equilíbrio na hora do cinco contra cinco e muita velocidade nos contra-ataques. Deu gosto de ver.

Entre as brasileiras, me impressionou a atuação da Natália, para mim a melhor em quadra. Inteligente, forte, com boa visão de jogo e disposição de sobra, a ala-pivô anotou 15 pontos e cinco rebotes em 20 minutos. A pivô Taise também teve uma atuação bem sólida, saindo do banco para registrar seis pontos, dois rebotes e um toco em apenas oito minutos de ação. Samanta, que ainda está se recuperando de uma pequena cirurgia no joelho, infelizmente não foi liberada para jogar, mas deve voltar à quadra no fim de semana, quando a equipe disputa duas partidas fora de casa.

Quando eu retornar da viagem, vou fazer no Globoesporte.com uma reportagem detalhada com entrevistas e mais material em vídeo e fotos. Em todo caso, já deixo os parabéns ao Julio e às meninas, brasileiros vitoriosos na terra do basquete. Boa sorte para eles – e que o Brasil, um dia, possa seguir esse caminho aliando educação e esporte. Até lá, temos uma longa estrada.