segunda-feira, 24 de março de 2008
UMA BRASILEIRA EM OKLAHOMA
Filha do técnico João Camargo, Mariana Camargo teve sua carreira desenhada desde o berço. Nascida em Blumenau há 22 anos e com 1,80m, começou aos 10 no Colégio Sagrada Família (SC) e hoje é estudante de Negociação Internacional
e armadora da Oral Roberts University (ORU), de Oklahoma, que conta com outras duas brasileiras - Carol Volpato e Monah Pegorari. A estréia no March Madness foi na noite deste domingo, contra a fortíssima Tennessee, de Candace Parker. A derrota por 94-55 não chegou a ser surpresa, mas foi especialmente dolorosa para Mariana. Maior cestinha da equipe no ano, ela se machucou ao escorregar na quadra logo no primeiro minuto. Poucas horas antes da partida, ainda no hotel em West Lafayette ("não é ruim, mas duvido que elas ficassem aqui"), a jogadora brasileira conversou com o Rebote.
Pat Summitt, treinadora de Tennessee, consola a lesionada Mariana
REBOTE - Em seu terceiro ano nos EUA, você obteve as melhores médias de sua carreira em pontos (13.3 por partida, a líder do time), rebotes (5.1) e assistências (cinco). Como
foi o começo e como está sendo seu desenvolvimento aí?
MARIANA CAMARGO - Estou jogando nas posições 1 e 2, e consigo sentir a mudança no meu jogo em relação ao primeiro ano. O jogo é mais disciplinado, todas têm bons fundamentos, e o trabalho de base também é muito bom, pois a mentalidade em relação a treino forte vem desde a escola. Tive muita dificuldade no princípio, porque todos assistem a fitas antes do jogos, e isso faz com que você trabalhe muito mais nas suas dificuldades. Melhorei muito por causa do treinamento pesado de todos os dias. Aqui não existe o famoso migué. Ou você dá o seu máximo, ou será cobrada o treino inteiro pelos técnicos.
- Existe alguma obrigação
de notas aí na faculdade?
- Se a atleta não tiver notas boas, não entra em quadra.
- Talvez com exceção de Tatiana Conceição, nenhuma brasileira da NCAA seguiu na modalidade. Você consegue explicar os motivos? E que caminhos pretende seguir?
- Depois da faculdade, pretendo jogar por um tempo na Europa ou quem sabe até no Brasil, se a situação mudar. As atletas param de jogar principalmente pela falta de apoio. Todas querem voltar para casa, mas ao mesmo tempo vêem a situação no Brasil e resolvem parar, pois acham que
vale mais a pena ter uma vida estável do que jogar basquete.
>>> "O que falta no Brasil é apoio do governo, o que aumentaria o número de atletas e o nível desses atletas" - Mariana Camargo
- Você foi a única universitária do exterior convocada para
a Universíade, na Tailândia. Quais foram suas impressões sobre o torneio e quais as diferenças entre você e as outras meninas?
- Gostei muito do torneio, é diferente do que eu pensava. A Universíade reúne os melhores atletas universitários do mundo. E agora vejo melhor a diferença entre o basquete dos EUA e do Brasil. Uma das distinções é o jogo físico (sem faltas) das americanas e a importância dada à defesa. Por outro lado, a criatividade no ataque permanece muito boa, e é isso que os técnicos daqui buscam nas brasileiras.
- Você sonha com seleção brasileira, ou é algo prematuro?
- Não acho que seja prematuro pensar, mas ao mesmo tempo sei que quase ninguém no Brasil acompanha muito as jogadoras que estão nos EUA. Então, para ser sincera, me preocupo mais em melhorar a cada dia pensando que seleção será conseqüência.
- O que você acha que falta para o Brasil se tornar uma potência na modalidade? Ainda estamos muito longe, em termos de estrutura e capacidade técnica?
- Essa diferença toda entre EUA e Brasil é muito relacionada à cultura. O interesse pelo esporte vem desde a escola, e continua na universidade, até chegar à NBA ou WNBA. Há muitos jogos com público de mais de 10 mil pessoas. O que falta no Brasil é principalmente apoio por parte do governo, o que aumentaria o número de atletas e o nível desses atletas.
- Se o basquete brasileiro fosse organizado, você acha que sairia do seu país para jogar nos EUA? Já pensou em desistir?
- Se no Brasil fosse como na Europa, seria muito difícil sair para os EUA, porque haveria a possibilidade de um futuro muito bom com o basquete no meu país. Mas com essa incerteza, por exemplo, sobre a continuidade do time no próximo ano fica muito difícil construir um futuro. Esse foi um dos principais motivos da minha decisão de ter essa experiência aqui nos EUA. Pensei em desistir, mas posso dizer que, mesmo passando por fases muito difíceis devido à saudade e às dificuldades em relação à língua e a cultura, estar jogando aqui é uma experiência incrível que só vai acrescentar na minha vida acadêmica e esportiva.
JOGO RÁPIDO
- Ídolo: Michael Jordan.
- Sonho: Ver, algum dia, o basquete ser tão importante para os brasileiros como o futebol.
- Futuro: Imprevisível.
- Seleção: Já foi uma prioridade.
- Lance inesquecível: Última cesta
na final do Sul-americano sub-16,
em 2001, contra a Argentina.
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4 comentários:
só para lembrar... a posição 1 não é mais carente hoje no basquete feminino nacional???
Oi, Henrique. A gente só espera que a comissão técnica da seleção esteja vendo este movimento de brasileiras espalhadas pela NCAA. Sobre a Mariana, ela escorregou em uma daquelas plaquinhas que as cheerleaders carregam. Incrível, não? Mas vamos torcer para que não seja nada grave! abs, fábio
O Camargo, pai da Mariana , me informou por e-mail que ela rompeu o cruzado anterior, espero q cora tudo bem e que ela volte as quadras o mais rápido possível...
Ficamos aqui na torcida....
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