

Noite de sexta-feira, aeroporto de Congonhas, São Paulo. O atraso de quase cinco horas no voo – duas delas dentro do avião, parado na pista – permite ler e reler a revista da companhia aérea. A reportagem "Dá-lhe Córdoba", sobre a segunda maior cidade argentina (foto), exalta pontos turísticos locais e afirma que "os cordobeses são bem humorados, expansivos e adoram uma piada". Será?
Flashback para a manhã da mesma sexta, no auditório de um hotel em SP. Durante uma hora, um cordobês meio carrancudo discorre suas ideias para dezenas de repórteres. Gesticula pouco, sorri menos ainda e não conta nenhuma piada.

A primeira impressão sobre Rubén Magnano contraria o estereótipo de seus conterrâneos. Desse jeito, ele foi apresentado como novo técnico da seleção masculina, substituindo o não menos sisudo Moncho Monsalve.
"Teremos regras que precisam ser respeitadas", anunciou, antecipando medidas que fizeram sua fama de durão na Argentina, como proibir o uso de telefone celular na concentração, exigir normas de vestuário e vetar a presença de jornalistas no ônibus da equipe.
A diferença é que, para desmontar a primeira impressão, Moncho gastou algumas semanas de convívio com a imprensa. Magnano só precisou de poucas horas.
Quando deixou o hotel e chegou à sede da Globo, onde participaria do
Arena SporTV, o argentino já era outra pessoa. Antes mesmo de entrar no estúdio, abriu o sorriso, brincou com o próprio sotaque, falou de futebol e, relaxado, mostrou que já se sente em casa.

Com um bigode ralo e o cabelo levemente grisalho penteado para trás, Magnano parece à vontade com o novo figurino, que segue o estilo do antecessor espanhol: camisa polo da CBB abotoada até em cima e enfiada para dentro da calça bege. Só diverge do estilo de Moncho porque usa o relógio no pulso esquerdo e dispensa as meias para acompanhar os tênis brancos.
Ao contrário da apresentação oficial, o argentino não economizou nas risadas durante o programa. No ar, chegou a zombar de si mesmo ao lembrar o passado de "jogador muito fraco". Nos intervalos, manteve o bom humor e se revelou torcedor do Clube Atlético Belgrano, de Córdoba, que hoje amarga a segunda divisão na Argentina.
"Mas tenho uma simpatia pelo Boca Juniors, até porque já treinei o time de basquete lá", admitiu.

Campeão olímpico e vice mundial, Magnano volta ao seu país na segunda-feira, e embarca nos dia 5 para os Estados Unidos, onde tem conversas marcadas com Leandrinho, Varejão e (principalmente) Nenê.
"A primeira coisa que eu perguntei foi: por que Nenê não jogou pela seleção nos últimos anos? Um Nenê comprometido seria muito importante. Minha tarefa como técnico é lhe mostrar essa importância não só para ele, mas para toda a estrutura do basquete brasileiro", disse no
Arena.
Em março, Magnano desembarca de vez em SP, provavelmente já ocupando um apartamento nos Jardins, perto dos clubes Pinheiros e Paulistano. É ali que vai receber aulas de português
"Quando eu voltar em março, precisarei de uma professora".
Tanto no
Arena como na entrevista coletiva, o técnico ouviu a provocação: professora? Não pode ser um professor? A resposta veio fora do ar, com um sorriso no rosto, deixando claro que, dentro de casa, quem veste a capa da disciplina é a esposa:
- Ela vem comigo para o Brasil, então não pode ser uma professora. É professor mesmo...