quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

JANETH, DE NOVO CAMPEÃ




O currículo construído ao longo de duas décadas dentro da quadra é impecável, com direito a um título mundial em 1994, duas medalhas olímpicas e o tetracampeonato na WNBA. Como técnica, Janeth abriu a caminhada disposta a se manter no trilho das vitórias. Após conquistar a Copa América no cargo de assistente de Paulo Bassul, a ex-atleta estreou como treinadora levantando a taça do Sul-Americano sub-15, no Equador. Na decisão do último domingo, o sabor especial de bater a Argentina em jogo dramático, por 56-54. De volta ao Brasil, Janeth bateu um papo por telefone com o Rebote, falou sobre a superação da conquista ("Lá não tinha nem água quente!") e mostrou que não vai se contentar com o passado de glórias. Aos 40 anos, parece que ela está só começando...

- REBOTE - Assim que acabou o jogo contra a Argentina, com o seu primeiro título como técnica garantido, o que você sentiu?
- JANETH - Minha sensação foi de missão cumprida. Tudo que nós propusemos às jogadoras foi alcançado com êxito. Todas as meninas que estavam ali acreditaram no trabalho, e o resultado apareceu. Fizemos um alicerce muito forte, sabíamos das dificuldades. Elas ficaram um mês e pouco sem aula, longe da família, com uma alimentação que não é o nosso padrão. Lá não tinha nem água quente, foram duas semanas de banho frio! Mas quanto vale se sacrificar para ser campeão? Vale tudo isso.

>>> "Eu vejo jogos, leio, participo de clínicas, palestras, seminários. Assim a gente começa a crescer"

- Como você avalia a técnica Janeth no início de carreira?
- Para um começo de trabalho, correu tudo bem. A gente conseguiu implantar uma filosofia no grupo na qual o comprometimento era um dos alvos principais. Todo mundo aderiu, e eu me senti mais uma vez realizada, porque me projetei em todas as jogadoras e me realizei através delas. Ainda é um começo, estou estudando muito para que o resultado apareça cada vez mais rápido.

- Fale um pouco mais sobre esse seu estudo. Como é? O que você faz para que o seu mérito como técnica não fique restrito apenas à bagagem que você traz como jogadora?
- Eu vejo vários jogos, leio, participo de clínicas, palestras, seminários. Assim a gente começa a crescer. Tento estudar também o comportamento das atletas. Procuro em livros e na internet depoimentos sobre comportamento dos jovens, para poder ajudar no relacionamento. Essas leituras estão me dando um respaldo muito grande para compreender melhor o que elas pensam. Fica mais fácil. Estou procurando fazer aos poucos. Procuro conversar com alguns psicólogos, para entender a reação dos jovens às cobranças, atitudes do dia-a-dia, o relacionamento entre eles. Tudo isso, claro, voltado para o lado esportivo.

>>> "Os técnicos do país precisam estar dentro da mesma filosofia"

- Você tem o seu trabalho no Instituto Janeth Arcain, e a formação de atletas no Brasil depende muito de iniciativas como essa, na falta de um programa nacional. Agora, na seleção, você tem ainda mais contato com as meninas. Como está a base do basquete feminino no Brasil?
- Está realmente baseada nos clubes. Na seleção, nós fizemos uma avaliação e passamos os fundamentos necessários para cada atleta, vimos as deficiências, o que cada uma precisava melhorar. E elas de fato tiveram uma evolução da primeira para a segunda fase de treinos. Os clubes são os grandes formadores e precisam estar respaldados para que haja um resultado melhor quando a jogadora chega à seleção. A gente ganharia tempo se elas já tivessem os fundamentos do passe, da agilidade, até algumas coisas relacionadas à nutrição.

- E qual é a saída?
- Eu vejo um futuro muito bom caso saia essa escola de formação de técnicos que a Confederação quer lançar. Assim todos nós ficaríamos enquadrados em uma única filosofia. Os técnicos do país precisam estar dentro da mesma filosofia de trabalho.

>>> "Talento nós temos no Brasil, e temos bastante. Só que esse talento precisa ser bem lapidado"

- Sua seleção bateu a Argentina na final, mas o Brasil andou perdendo recentemente alguns confrontos com equipes da América do Sul que a gente costumava derrotar sem muito esforço. Está cada vez mais difícil manter a hegemonia?
- Pois é, fica mais difícil porque os outros países estão fazendo esse trabalho que eu falei, formatando um novo sistema, uma filosofia única, e isso começa a dar resultado. Se nós também entrarmos nessa, tudo pode voltar a ser como era antigamente, sem tanta dificuldade para vencer certos rivais. Talento nós temos, e bastante. Só que esse talento precisa ser lapidado.

- Você também viveu a experiência de ser assistente da seleção adulta, e agora nós aguardamos a definição sobre a permanência ou não do Paulo Bassul. Você acha que ele deveria permanecer no cargo?
- É difícil eu falar, principalmente quando a seleção vem de vitória. Mas quem tem de tomar essa decisão é a Confederação. É a instituição capacitada para saber o que é melhor agora.

- Falando na CBB, o que você tem achado do trabalho da Hortência como dirigente?
- Estou gostando bastante, deu uma mexida no basquete, principalmente o feminino. Ela dá um respaldo muito grande para os técnicos, e eu estou incluída nisso. A curto prazo já deu resultado, agora vamos ver o planejamento a médio e longo prazo, para que a gente melhore cada vez mais.

>>> "Se a CBB conseguir implantar o trabalho que vem fazendo, o resultado aparece. Aí temos condição até de melhorar essa nossa posição"

- Seja qual for o técnico, o que você espera do Brasil no Mundial de 2010?
- Espero que consiga fazer bonito. Se tudo der certo, vamos alcançar os resultados que almejamos e melhorar a nossa colocação no Mundial.

- No último Mundial, a seleção ficou em quarto, e você ainda jogava. De lá para cá, muita coisa mudou. O Brasil ainda tem material humano para se manter entre os quatro melhores do mundo no feminino?
- Acho que ainda tem sim. Se a CBB conseguir implantar o trabalho que vem fazendo, o resultado vai aparecer. E aí temos condições até de melhorar essa nossa posição.

3 comentários:

Unknown disse...

rodrigo, eu e o rafael perdigao jogamos uma liga de fantasy juntos e conversamos sobre os premios.. tu ainda nao entrou em contato cmg q fui o 2o oO houve algum problema com o rodrigo? hahaha
abraços, aguardo o contato...

Duda 11 disse...

Se a Janeth conseguir passar às meninas, como técnica, 50% do talento que tinha como jogadora, terá muito sucesso! Na entrevista ela mostra que continua a mesma: talentosa e esforçada! O basquete feminino carece de jogadoras melhores, com mais fundamentos, e ela pode ajudar muito nesse trabalho de base.

Anônimo disse...

Cheguei a comentar no site do basketbrasil sobre o feito da Janeth e volto a repetir aqui. Ela está de parabéns pela importância desta conquista, já que o Brasil, infelizmente tem perdido para a Argentina em praticamente todas as categorias do basquete, tanto no masculino quanto no feminino. Creio que a exceção seria no feminino adulto, mas até quando?