sexta-feira, 9 de novembro de 2007

DESVENDANDO MARCELINHO


Rimantas Grigas / Foto: Reprodução

Marcelinho Machado resume perfeitamente a atual fase do basquete brasileiro: por conta da falta de treinamento de alto nível aqui dentro, seu talento é desperdiçado. Mas nem sempre foi assim. Quando atuou pelo Rimini Crabs (na cidade italiana em que o cineasta Federico Fellini nasceu), pelo Los Lobos Cantábria (Espanha) e pelo Zalgiris Kaunas (Lituânia), o brasileiro foi elogiado, jogou como armador e fez uma coisa que nenhum técnico brasileiro conseguiu extrair dele: dedicou-se no setor defensivo. Parece impossível de acreditar, não? Foi por isso que o Rebote entrevistou o técnico do Zalgiris, Rimantas Grigas (o homem da foto), para saber exatamente como foi o ano de Marcelinho por lá. As respostas são, no mínimo, surpreendentes.

Marcelinho / Foto: ReproduçãoREBOTE - Marcelinho foi o primeiro brasileiro a atuar pelo Zalgiris Kaunas. Fale um pouco sobre o desempenho dele no último campeonato, suas funções, e por que ele
foi trocado pelo americano Marcus Brown para esta temporada européia.

GRIGAS - Marcelinho lembra o verdadeiro jogador brasileiro, seja ele de futebol ou de basquete. É o poeta do jogo. Ele é criativo e, quando estava em quadra, o jogo ficava mais bonito de assistir. Se no começo das férias eu realmente soubesse que ficaria no comando técnico, provavelmente ele teria permanecido aqui. Ele foi trazido para ser o nosso especialista em três pontos, mas não foi muito bem nesta tarefa. Entretanto, foi bastante valioso como organizador de jogo e marcando os cestinhas de outros times. Sinceramente gostei muito de ter trabalhado com um atleta tão profissional quanto ele.

>>> "Tentei passar para ele que nem todo chute do ataque precisava ser seu e que, para mim, o mais importante era seu comportamento defensivo. Marcelinho mudou sua atitude rapidamente e se tornou o nosso principal defensor"

- No Brasil, Marcelinho é chamado por alguns de "crazy shooter". Você concorda com esse apelido? Se fosse
realmente assim, você o teria escalado em seu time?

- Jamais o chamaria assim. Nosso time tinha um sistema rigoroso de jogadas, e Marcelinho arremessava no momento apropriado. Nem sempre estes arremessos eram precisos, e mesmo assim ele era um jogador importante para o time. Foi muito útil como armador, e nos ajudou a vencer o último campeonato lituano.

Marcelinho / Foto: Reprodução- Se você pudesse, como faria um raio-x de Marcelinho?
- A verdade é que fui o segundo treinador do Marcelo aqui na Lituânia. O primeiro, Ainars Bagatskis, tinha uma maneira diferente de lidar. Tentei passar para ele que nem todo chute do ataque precisava ser seu e que, para mim,
o mais importante era seu comportamento defensivo.
Ele mudou sua atitude rapidamente e se tornou o nosso principal defensor. Foi fantástico no combate a Kareem Rush nas finais do campeonato local e contra Juan Carlos Navarro nos confrontos contra o Barcelona. Ambos agora estão na NBA e ele fez um excepcional trabalho defendendo os melhores atletas do adversário. Claro que houve táticas de ajustes, mas Machado nos ajudou a eliminar estes jogadores que citei. Em linhas gerais, ele é um jogador que sabe se adequar ao que o treinador pede, e isso é uma grande qualidade. Marcelinho disputava posição com Marko Popovic, e só garantiu vaga no quinteto titular porque aprendeu que marcar muito bem também rende frutos.

JP Batista / Foto: Reprodução- Nas finais do último Lituano, seu time enfrentou o Rytas, de JP Batista. O que dizer dele?
- Batista tem uma ótima técnica e tira muita vantagem dela, mas tenta arremessar muito mais do que utilizar o contato físico debaixo da tabela. Acho que ele é atlético o suficiente para jogar por ali e ajudar ainda mais o seu time. Entretanto, ele ainda evita isso e prefere arremessar após o corta-luz de uma distância longa. É ótimo que ele acerte estes arremessos, mas ele seria bem mais completo se variasse mais o seu repertório.

>>> "O Brasil tem muito talento
e tradição, então creio que seja somente questão de tempo. Não vejo uma grande catástrofe nisso"


- Conte-nos um pouco sobre seu dia-a-dia de treinamentos.
- Treinamos, normalmente, duas vezes por dia, mas por causa das viagens este ritmo teve que diminuir um pouco no fim da temporada. Gosto muito de me comunicar com os atletas de maneira aberta e recíproca. Tento colocá-los no mesmo nível, lado a lado, e não abaixo na cadeia produtiva. Temos que conversar, brincar e até mesmo levantar a voz como um time precisa ser. Gosto muito de ler também. Técnicos como Obradovic e Ettore Messina ensinam muito sobre liderança, ataque e defesa. Também é fundamental assistir aos jogos dos outros times, monitorar suas ações e conhecê-los profundamente. Isso mostra respeito não só ao seu trabalho, mas ao do oponente também. Meus rivais fazem isso, não tenho dúvidas. Quanto mais se estuda, mais se revela sobre um adversário.

Rimantas Grigas / Foto: Reprodução- O que você conhece sobre
o basquete brasileiro e
os seus jogadores?

- Se as informações que recebo são corretas, o Brasil passa atualmente por uma troca de gerações. Novos jogadores surgem e precisam de tempo para se entrosar no time principal. O Brasil tem muito talento e tradição, então creio que seja somente questão de tempo mesmo. Não vejo uma grande catástrofe nisso. Sobre os atletas, conheço alguns deles. Leandrinho é capaz de fazer 20 pontos toda noite na NBA, e não é preciso dizer mais nada a respeito dele. Também enfrentamos Splitter algumas vezes, é um dos jovens mais talentosos e futurosos da Europa.

>>> "Existem bons treinadores no Brasil, porque se há bons atletas aí, alguém os ensinou a jogar assim"

- Cogita-se a presença de um técnico estrangeiro no comando da seleção. O que você acha dessa mentalidade?
- Não existe uma só resposta para esta pergunta. David Blatt, o americano, acaba de ser campeão com a Rússia, que sempre usou treinadores locais e não obteve resultados tão positivos recentemente. Creio que existem bons treinadores no Brasil, porque se há bons atletas aí, alguém os ensinou a jogar assim.

10 comentários:

Anônimo disse...

Opinião pessoal: marcelinho é crazy shooter sim. È bom jogador, mas acha que joga muito mais do que realmente joga.

Anônimo disse...

"É o poeta do jogo". Acho que esse tal de Rimantas Grigas não bate bem das idéias...

Anônimo disse...

só comentando rápido sobre essa tese dele da existência de bons treinadores aqui por existirem bons jogadores que saíram daqui.

vou pegar só os 4 jogadores citados na entrevista:
Tiago Splitter->saiu daqui com 15 anos,grande parte do seu crescimento técnico se deve a sua ida para a Espanha.
Leandrinho->apesar de ter saído do BR campeão,cestinha e líder de seu time,demonstrou o baixo nivel do nacional,chegando tão despreparado em todos os fundamentos do jogo..sinal disso que até hoje se reclama muito de sua defesa,visão de jogo,decisões feitas etc...(tá posso ter sido um pouco rígido com ele..mas é só pra provar meu ponto)
J.P.Batista->desconhecido antes de ir pros EUA,com certeza aprimorou grande parte de seus fundamentos nos EUA.
Marcelinho-> o único que só saiu do BR depois de consolidado no basquete nacional e de ter atingido uma idade mais avançada.Teve a base de seus fundamentos lapidados e pra mim está aí uma das razões pras falhas em seu jogo,especialmente a defesa falha e o individualismo extremo.Ao longo de sua carreira no país seu individualismo nunca foi combatido e sua defesa nunca foi criticada(por tecnicos)a ponto de fazê-lo querer melhorar nesses aspectos.
Precisou ir pra Lituania pra algum técnico fazer isso.
Por esses e outros motivos não consigo ver esses bons técnicos que o Rimantas Grigas falou(talvez por corporativismo,quem sabe...ou apenas por desconhecimento do deserto que temos aqui...)

Anônimo disse...

Não me convenceu o cidadão aí, nunca ele falaria que mandou o Marcelinho embora. Tá claro pra mim, ele foi contratado pra ser a arma de três pontos mas decepcionou e esse papo de melhor defensor do time, quem engole essa? Eu fora. O cara é ético não vai falar mal, mas a verdade é que dispensou o "poeta".

Anônimo disse...

Aí meu Deus!!!
Lá vem o Cagão novamente!
Vou aproveitar o Natal e pedir ao Papai Noel sua aposentadoria. Não posso esquecer de deixar o meu sapatinho na janela.

Anônimo disse...

Também fiquei com a impressão de que o cara foi político...não ia falar de mal...mas só pontos positivos? Peraí!!!

Gostei da observação do Lee, acima.

E parabéns ao Bala pela entrevista!

Anônimo disse...

Esse GRIGAS mostrou ser um cara muito educado e elegante.

Porque ninguém consegue acredita nesse desempenho do Machado. E o resultado foi claro: FOI DISPENSADO.

Unknown disse...

Quem assiste basket e admira sabe q o marcelinho machado é bom jogador agora se a seleção/cbb naum tiver comando fora e dentro da quadra organização ninguem ira jogar nda
Alguem aki tem duvida q Leandrinho,Nene(colocando ele em forma e sua arrogancia no lugar dele)Guilherme,Marcelinho Huertas/Machado,Jp Batista,Arnaldinho(com confiança)...................etc são bons jogadores
O q o Brasil precisa é na cbb TIRAR O GREGO E SEUS AMIGOS DE LÁ ORGANIZAÇÃO,MELHOR TRABALHO DE BASE,CAMPEONATOS FORTES COM OS CLUBES COMANDANDO,ASSOCIAÇÃO DE TECNICOS E JOGADORES PRA COMEÇAR
e na seleção os jogadores tem q gostar de jogar na seleção,um tecnico competente(com jogadas,padrão de jogo,q se relacione e conheça todos os jogadores dentro e fora do brasil,q vibre pelo time q naum coloque culpa em azar.....etc)
os jogadores tem q ter raça e vibração em jogar pela seleção
jogarem com diposição e alegria
treinamentos com tempo de preparar o time ou seja planejamento o q naum temos hj na cbb
Se isso acontecer com certeza o Brasil volta a ser uma força no basket mundial
ate infelizmente creio q vai demorar

Unknown disse...

vejam o q disse o otimo tecnico argentino Sergio Hernandez sobre o basket brasileiro
http://www.gazetaesportiva.net/entrevista/basquete/ent009.php

Bert disse...

Excelente trabalho, Fábio!

Bert