segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
AS IDÉIAS DE MARQUINHOS
Com três Olimpíadas pela seleção, um título mundial de clubes pelo Sírio em 1979 e
um punhado de outros feitos,
o pivô Marquinhos colocou seu nome na história do basquete brasileiro. Agora, aos 56 anos
e cheio de planos, o carioca Marcos Antônio Abdalla Leite quer encarar o desafio de ser presidente da CBB. Mas para concorrer com Grego, Chakmati e Carlos Nunes nas eleições de maio, ele precisa conseguir, até janeiro, o apoio formal de
duas federações estaduais. Enquanto o lançamento oficial da candidatura não sai, Marquinhos conta ao Rebote algumas
de suas idéias para mudar o cenário da bola laranja no Brasil.
- REBOTE - Para se lançar oficialmente como candidato à CBB, você precisa ter o apoio de duas federações. Já conseguiu?
- MARQUINHOS - Olha, nós temos conversado bastante, mas ninguém bateu o martelo comigo até agora. Os outros três candidatos começaram muito cedo, e eu só pude fazer contatos agora. As conversas estão progredindo, estou esperançoso.
- Sua candidatura é vista como uma alternativa. Na prática, o que ela teria de diferente de Grego, Chakmati e Carlos Nunes?
- Eu respeito os outros três candidatos, mas eles estão há tanto tempo no comando de federações, de confederações, e até hoje não surtiu efeito. Nenhum dos três conseguiu fazer um trabalho que chamasse a atenção de atletas, mídia, patrocinadores. Estamos perdendo espaço há muito tempo. Por exemplo, se
o doutor Kouros [Monadjemi, presidente da nova Liga Nacional] entrasse na disputa, eu retiraria minha candidatura na hora.
Sei que ele é muito capaz. Mas os outros três candidatos estão
aí há um tempão e não fazem absolutamente nada.
- Com os presidentes de federações que nós temos hoje, é possível ganhar a eleição na CBB apenas com idéias e propostas? Ou é preciso passar pela política, pelas trocas, pela barganha?
- Os presidentes de federações nunca receberam uma proposta concreta para o basquete. A acomodação é natural. Tenho certeza de que, com as minhas propostas, o nível vai aumentar. Até porque esses presidentes vão ter mais ganho político, mais projetos nas suas cidades. Se você colocar isso no papel, não precisa negociar politicamente.
- Agora, com a Liga, a CBB não vai ter mais que se preocupar tanto com o Nacional masculino. Quais devem ser então as prioridades do presidente?
- Primeiro, os fundamentos. Eu só joguei basquete (foto) porque tinha fundamentos. Precisamos envolver
as escolas públicas, o Ministério da Educação. Isso tem um ganho concreto na saúde, no bem-estar. A ONG Maritaca [coordenada por Marquinhos
em São Paulo] fez uma parceria com a fundação do Nate Archibald, que saiu do gueto para ser um dos 50 maiores jogadores da história
da NBA. Nós discutimos muito o que precisa mudar por aqui.
- E em relação aos nossos técnicos?
- Nós temos vários técnicos de potencial incrível, mas estamos defasados em relação ao mundo. E não adianta pensar que é
um trabalho para dar resultado daqui a um ano. É longo prazo.
O que pode acontecer a curto prazo é a gente conseguir que
os grandes jogadores se motivem novamente para jogar pela seleção, sabendo que existe um trabalho sério por trás.
- O que você acha do Moncho?
- O Moncho chegou aqui e entrou numa fria tremenda. Aparentemente é uma pessoa muito capaz. Agora, eu, como ex-jogador, penso assim: se é para contratar um técnico de fora para a seleção, esse cara tem que ser top de linha.
- Mas financeiramente é possível contratar um top de linha?
- A questão financeira você vai conseguir quando tiver mais credibilidade para buscar recursos. Aí as portas vão se abrir.
- A Liga Nacional acaba de ser criada e tem o seu apoio, mas por enquanto só contempla o torneio masculino. As meninas continuam com a CBB. Quais são os seus planos para o basquete feminino no Brasil?
- As pessoas que montaram a Liga são espetaculares, mas a verdade é que quem trouxe as glórias para o Brasil nos últimos anos foi o basquete feminino. Cabe então à CBB montar a mesma coisa que está sendo montada no masculino: uma liga nos mesmos moldes da LNB, com os clubes coordenando.
- Já que o assunto é gestão, queria que você comentasse um ponto. No blog Bala na Cesta, do Fábio Balassiano, um leitor afirmou que, sob o seu comando, a Federação Brasileira de Basquetebol Master falhou na prestação de contas, o que poderia tirar o Brasil do Mundial de 2009. O que houve?
- Isso já está tudo explicado. Houve uma denúncia de que a Federação não pagou o transporte para uma equipe. Toda a documentação foi enviada para o Ministério Público Federal, para o Ministério do Esporte e para a Eletrobrás. Está tudo explicado. Aliás, é o contrário, eu é que coloquei dinheiro na Federação.
- Falando em dinheiro, isso pode ser um problema para a CBB a partir de 2009? Houve um corte nas verbas do COB, e já se comenta até que a Eletrobrás pode retirar o patrocínio.
- Vai haver um corte muito grande. Eu já ouvi que, agora em janeiro, a Eletrobrás abandona a confederação. É uma situação crítica na parte financeira. Agora eu faço uma pergunta: você acha que hoje a CBB tem condição de chegar a qualquer local e pedir patrocínio? Não tem, porque ninguém acredita em nada.
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7 comentários:
Rodrigo,
Primeiramente EXCELENTE entrevista, parabéns mesmo, continue assim. Sobre o Marquinhos, podemos perceber claramente que se trata de um basqueteiro, uma pessoa que está querendo se candidatar para fazer com que o basket volte a crescer aqui no Brasil. Respondeu muito bem as perguntas, mostrando conhecimento do quadro atual e do que deve ser tentado para mudar este estágio lastimável, no qual encontra-se o nosso esporte tão amado. Abraço e mais uma vez parabéns. FP
Penso o seguinte: não é por falta de conhecimento do quadro atual e do que precisa ser feito que as coisas estão do jeito que estão. Aliás, em parte até se pode atribuir a isso. Mas, em grande medida, não dá pra desprezar a dimensão política. Me preocupou bastante ouvir que "não precisa negociar politicamente". Soa um pensamento ingênuo. Entrar no campo da política sem negociar com as forças políticas que compõem e sustentam determinada instituição é surreal. Não digo que o cara precise deixar sua ética, princípios e suas concepções de lado. Mas, deve saber sim o quão complexo é o campo em que está adentrando. Outra coisa que me preocupou foi não ter visto nenhum projeto real para mudar o quadro atual. Ok, ele falou do problema dos fundamentos, dos treinadores, da falta de credibilidade pra CBB conseguir recursos e do abandono do basquete feminino. Mas não tocou em propostas pra enfrentar tais problemas. Estaria ele escondendo o jogo ou falta uma preparação melhor mesmo? No mais, o que valeu muito à pena foi a dissertação do Rolando. Essa sim vale ser lida, estudada e dá ótimos subsídios pra pensarmos o basquete brasileiro nos tempos de hoje.
Leokaplan,
Realmente senti falta de propostas mais concretas.
Uma delas essencial (que ainda não vi nehum dos candidatos defender): alterar o sistema de eleição da CBB para eleição direta, onde todos os jogadores e técnicos teriam direito a voto. Aí sim a coisa começaria a mudar, e diminuiria e muito o peso das negosiações políticas!
Guto, se não me engano o Marquinhos já defendeu em outra entrevista essa idéia de alterar o sistema de eleição. Só não sei se isso é tão simples assim. Acho que tal mudança precisaria passar até pelo Congresso e valeria para todas as Confederações. Aí entra o lobby, sabe como é. Abraços.
Nenhuma pergunta relacionada ao nordeste, meu caro... achei a entrevista pobre de conteúdo... falou, falou e falou e n disse nada.
A História da FBBM continua mal explicada. Infelizmente não posso citar fontes, mas acredito que você Rodrigo e o Fábio consigam informações até melhores que as minhas sobre esta situação.
A FBBM está falida, e muito disto se deve ao Sr. Marquinhos e ao Sr Fontenelle.
Me desculpem a falta de informações concretas.
Pois é... Conheço o Marquinhos há pelo menos 30 anos, vizinhos, cresci junto com a filha dele e posso dizer com toda a experiência que se tem um cara ético, de boa conduta moral e extremamente criativo é essa figuraça aí. Com certeza tem uma proposta palpável para o basquete nacional. Grande abraço para ele e continuo torcendo como nossa melhor escolha!!
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