A CRISE NA BASE DA PIRÂMIDE

A seleção B do Brasil volta da sua turnê europeia podendo festejar, no máximo, o fato de ter ficado à frente de Macau, São Tomé e Principe, Guiné Bissau e Moçambique nos Jogos da Lusofonia. O elenco liderado por José Neto - com Moncho Monsalve inexplicavelmente vendo tudo da arquibancada - traz na bagagem um amargo quarto lugar, atrás de uma equipe mediana (Angola),
uma fraca (Portugal) e uma fraquíssima (Cabo Verde).

A lição que podemos extrair me parece óbvia: nós simplesmente não temos hoje no Brasil qualidade suficiente para formar uma seleção B. No ano passado, pagamos mico no Sul-Americano e quase ficamos fora da Copa América, com o atenuante de que aquele era quase um time C, já que a equipe principal estava muito desfalcada. Agora, nem essa desculpa a gente tem.



Como a equipe A só tem um desfalque, Nenê, o elenco que foi a Portugal é, de fato, o nosso segundo escalão. E com o segundo escalão não fazemos frente nem a angolanos e portugueses.
O que isso significa? Ora, significa o que estamos cansados de saber: o Brasil vive uma tremenda crise na base da pirâmide.

O topo da pirâmide ainda é bom, com Splitter, Huertas, Nenê, Leandrinho, Varejão e mais três ou quatro que você pode incluir no bolo. Dali para baixo, penamos para encontrar atletas de nível internacional. Alguns porque ainda são jovens (Paulão, Tavernari, Benite); outros porque são fracos mesmo. E nem sempre a culpa é deles. A culpa é do sistema que os formou - ou deformou, né.

Sem querer bater sempre na mesma tecla, volto a dizer que a situação não vai melhorar agora, nem no ano que vem, nem no outro. Só vai melhorar de verdade quando nós tivermos um sistema decente de formação de jovens talentos, capaz de despejar nos torneios adultos gente que tenha fundamentos e saiba respeitar um esquema tático. Sim, o tal esquema tático também precisa existir, e aí entra outra necessidade, a formação de técnicos melhores para o futuro.

Voltando ao presente, resta saber se ao menos o time A vai cumprir um papel digno na Copa América. Nosso elenco A é bem melhor que o B, claro, mas o torneio em Porto Rico também promete apresentar alguns rivais melhores que Angola e Portugal. Pena que a gente não possa arriscar previsões mais claras desde já, porque a seleção principal sequer começou a treinar. Ainda falta uma semana para Moncho reunir todos na mesma quadra. Quem vê de fora deve achar que podemos nos dar a esse luxo.