quarta-feira, 9 de janeiro de 2008
DUAS GERAÇÕES E UM BATE-PAPO
Joseane, Karla e Tamara: conversa descontraída no chão do ginásio
Na noite de segunda-feira, o time feminino do Botafogo recebeu Catanduva em seu ginásio. Impossível não lembrar do primeiro turno, quando a equipe do interior paulista venceu por incríveis 90 pontos. Desta vez, contudo, as coisas foram diferentes. As adolescentes do alvinegro encararam as veteranas e, apesar da derrota por 23 pontos, deixaram a quadra com o dever cumprido.
Ao fim da partida, levei Joseane e Tamara, ambas de 16 anos, para um bate-papo descontraído, no chão do ginásio, com a armadora Karla, que já disputou uma Olimpíada, em 2004, e defendeu a seleção no Pré-Olímpico do ano passado.
Aos 29 anos, Karla mostrou que não é craque só ali dentro da quadra. Mesmo cansada após o jogo, manteve o sorriso no rosto e deu toda a atenção às meninas. Leia abaixo o bate-papo:
- REBOTE - Karla, o que você estava fazendo quando tinha a idade dessas meninas?
- KARLA - Com 16 anos, eu tinha acabado de sair de Brasília para Campinas, passei por uma peneira na Ponte Preta, junto com a Tata, que hoje joga com elas no Botafogo. Nossos pais se juntaram, alugaram um apartamento e botaram uma senhora para cuidar da gente.
- Naquela época, você já imaginava o futuro?
- KARLA - Ah, sonhar, todo mundo sonha. Eu, essas meninas aqui, nós somos viciadas. Eu comia a bola. Ficava na quadra
até minha mãe falar "pelo amor de Deus, vai para casa".
- E vocês duas, ainda com 16 anos, como imaginam que estarão quando chegarem aos 29, idade da Karla?
- TAMARA - A gente está começando agora. Vamos tentar caminhar e, quem sabe, ser igual a ela, pegar seleções.
- JOSEANE - Eu sonho em jogar na Espanha. Não sei por que, mas é o que eu quero.
- Aproveitando o assunto, conte a ela um pouco de sua experiência no exterior, Karla, na Rússia e na Polônia.
- KARLA - É diferente. Além do frio, eles têm um basquete mais calculado, mais de pontaria do que de força. Treina-se muito arremesso e quase não se faz academia.
>>> "Eu passei por isso e sei como é. Joguei com a Branca e lembro que, uma vez, ela gritou comigo. Fiquei três dias sem poder olhar na cara dela, de tanto medo" - Karla
- O confronto entre Catanduva e Botafogo ilustra este Nacional com algumas equipes de ponta e outras ainda muito jovens, com atletas da base. O que há de bom e de ruim nisso?
- KARLA - Acho positivo as equipes participarem, mas também acho um pouco cedo para elas assumirem responsabilidades que, de repente, podem virar frustrações (as duas outras sorriem e concordam com a cabeça). Eu passei por isso e sei como é. Joguei com a Branca e lembro que, uma vez, ela gritou comigo. Fiquei três dias sem poder olhar na cara dela, de tanto medo.
- TAMARA - É isso mesmo que ela falou, certinho (risos). De positivo, a gente pega experiência e também se espelha um pouco nelas. Dá para ver e pegar as coisas boas que elas fazerm.
- KARLA - Só as boas, tá? (risos)
- E você, Joseane, que fez 17 pontos na partida? É difícil não se intimidar contra as adultas?
- JOSEANE - Como o nosso time é mais novo e não tem responsabilidade de ganhar, acaba ficando mais fácil.
- O que achou delas no jogo?
- KARLA - (Para Joseane) Você jogou bem para caramba. Está de parabéns, não se intimidou. A Tamara ficou um pouco mais receosa, mas entrou pouco, no fim. É assim mesmo, não tem que ficar olhando quem é do outro lado. Tem que tentar mesmo, sem medo de errar. Quando erra aquela bandeja sozinha (as duas riem), dá uma vergonha, né, mas que se dane. Pensem no que vocês treinam. Se vocês querem isso como profissão, treinem mesmo.
- Tem alguma coisa que vocês gostariam de perguntar a ela?
- TAMARA - Eu tenho uma curiosidade: você sempre foi uma das mais novas dos times em que jogou?
- KARLA - Sempre, sempre fui caçula. Mas o tempo passa, né, então hoje sou uma das mais velhas. O tempo passa tão rápido que você não percebe.
- Hoje, você está num time de ponta e defende a seleção.
Aos 29 anos, que conselho pode dar para essas meninas?
- KARLA - O conselho é treinar. Não tem varinha mágica, é só treino e cabeça boa. Não é porque deu tudo errado num dia, que vai dar de novo. E se der errado três, quatro, cinco, seis vezes, continuem batalhando, porque um dia vai dar certo.
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))) Naquela mesma segunda-feira, o Balassiano pegou uma van com Ourinhos e acompanhou o time de Iziane na partida contra Teresópolis. O relato vocês conferem amanhã, aqui no Rebote.
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3 comentários:
http://sports.espn.go.com/espn/eticket/story?page=tonyharris
por essas e outras que o brasil é tao mal visto lá fora
Rodrigo, parabéns por acompanhar de perto estas meninas neste momento em que o basquete feminino talvez mais precise mesmo de solidariedade, muito bonito este trabalho jornalístico de vocês... é comovente ver uma foto das jogadoras se alimentando após o jogo ainda com o uniforme da equipe. Aproveito para perguntar a vocês (já que estamos em um ano olímpico) se foi perguntado ao Bassul sobre a cogitação do resgate da Silvinha (que tá arrebentando na Espanha) e da Alessandra. Caso não, ainda assim qual a opinião de vocês? Eu particularmente acredito ser muito mais viável um quinteto com : Claudinha, Silvinha, Iziane, Érica e Alessandra do que apostar em um monte de garotas (vide o Pan). Fica a pergunta ae.
Oi Fábio, tudo certo? Valeu por escrever. O Bassul nos falou que está aberto para os resgates - não garantiu nenhum retorno, mas disse que eles são possíveis, e isso vale para Silvinha, Helen, Cíntia etc. Mas o caso da Alessandra é mais complicado, por causa do processo dela contra a CBB. Vamos aguardar. Abração!
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