sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

UMA CONVERSA COM BASSUL


Paulo Bassul / Foto: CBB

Paulo Bassul, técnico de Ourinhos, é um dos mais vitoriosos do basquete brasileiro. Com títulos na categoria de base, conquistas regionais e troféus nacionais, um dos mais estudiosos treinadores do país encara desde setembro de 2007 o desafio de levar a seleção feminina às Olimpíadas - e também o de criar uma outra cultura na modalidade. Atento a todos os aspectos do jogo, o treinador conversou com o Rebote sobre filosofia de trabalho,
a ênfase no setor defensivo e o papel de Iziane no elenco.

Paulo Bassul / Foto: CBBREBOTE - Com tantas atletas no exterior, como fazer para não perdê-las de vista e saber de seus desempenhos?
PAULO BASSUL- Evidente que, com internet e estatística, tudo ficou mais fácil. Mas por outro lado, guiar-se apenas pelos números é ruim, perde-se a subjetividade da análise. Adoro estatística, mas não sou escravo delas. Por isso estou sempre em contato com as atletas, com pessoas que conheço lá de fora e pedindo fitas, jogos e informações. Não é o ideal, mas se tenho uma dúvida, eu faço uma convocação mais abrangente para saná-la.

- Como tem sido implantar sua filosofia de trabalho na seleção, bem mais focada no aspecto defensivo?
- Sou muito detalhista com o meu grupo. Tenho um plano de ação e, com os ajustes necessários, sigo com ele até o fim. E acho defesa crucial. Para um torneio de alto nível, ninguém sobrevive sem defesa forte. Defesa é treinamento, repetição. A motivação para atacar é natural, vem de criança, ao contrário da defensiva.

>>> "Liderança é natural, vem desde a base com a pessoa, e isso não é característica da Iziane"

- Fala-se bastante sobre a sua rotatividade de atletas, como aconteceu no vice-campeonato mundial sub-21.
- Na verdade, isso depende do grupo, foi um mito que se criou em relação a mim. Antes daquele torneio, perdi a Iziane, que foi para a WNBA. Por isso, fiquei com um grupo mais homogêneo. Em vez de pensar no problema, busquei uma solução para isso: distribuir o tempo entre elas. Mas isso foi para aquele grupo.

Iziane / Foto: CBB- E a Iziane? O fator liderança, pelo visto, não te preocupa, certo? Há como transformar alguém que não tem esta característica em um líder? Trabalhar com ela em Ourinhos te ajuda a moldá-la, dentro de quadra, à maneira como você quer vê-la na seleção também?
- Liderança é natural, vem desde a base com a pessoa, e isso não é característica dela. Se existe como transformá-la? Creio que não, isso se encontra e é estimulado no dia-a-dia, dando espaço para que isso floresça. Dentro de quadra, ajuda, claro. Mas sem ferir as características dela. Tenho tentado mostrar para ela nucances que considero fundamentais também. O mais importante é que ela esteja receptiva e aberta às mudanças, e é o que vem acontecendo.

Paulo Bassul / Foto: CBB- Para fechar, você gosta de ler, não? Quais foram os últimos livros que você leu e gostou? De basquete ou não...
- Os livros de basquete eu quase nunca leio na totalidade. Busco um sistema que preciso estudar e leio um capítulo específico. O último que vi foi um norte-americano que falava sobre defesa matchup e me ajudou bastante. Li também o do Bernardinho (Transformando suor em ouro) e estou lendo O monge e o executivo, do James C. Hunter. Hoje em dia, ter só conhecimento técnico ou tático não é indicador de sucesso algum. Isso é reduzir demais a função e a abrangência do trabalho de um treinador. A habilidade interpessoal, psicológica e a forma de se expressar com o grupo são fundamentais.

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