segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

BOLAS E LETRAS NA IRLANDA


Rus Bradburd / Foto: Reprodução

A história de Rus Bradburd não seria nada diferente da maioria dos técnicos americanos. Mais de uma década em uma universidade de ponta, reconhecimento, emprego garantido. Mas Rus escolheu o caminho mais difícil. Cansado depois de 14 temporadas como assistente de New Mexico e UTEP, decidiu, no ano 2000, largar a modalidade para se dedicar a classes secretas de literatura. Em 2002, foi para a Irlanda, onde voltou ao cargo de treinador (no Tralee Frosties Tigers), mas desta vez de forma bem diferente. Para unir suas duas paixões, o basquete e as letras, ele escreveu Paddy on
the hardwood
, livro descrito pelo ex-jogador Jerry West como o melhor que já leu em toda sua vida. Em conversa com o Rebote por e-mail, o autor conta um pouco de sua experiência.

REBOTE - Começo com uma pergunta que está em seu próprio site: por que um técnico de sucesso nos Estados Unidos larga tudo para treinar basquete na Irlanda?
RUS BRADBURD - Na verdade eu já estava exausto das longas horas como técnico universitário. Minha vida ficou vazia. E me interessei por leitura, aí comecei a fazer aulas de literatura escondido em New Mexico. Em 2000, resolvi não esconder mais e segui na carreira de escritor. A razão pela qual comecei no esporte foi porque amava o jogo e ensinar aos atletas. Mas após 14 anos, estas já não eram mais razões para ficar. Tinha perdido minha pureza neste sentido. E só a recuperei na Irlanda.

Capa do livro / Foto: Reprodução- Como foi o período na Irlanda?
- Treinei por duas temporadas o Tralee Frosties Tigers. A primeira foi um desastre total. Tínhamos apenas seis atletas depois do Natal, e éramos o time mais jovem, apesar de nossa fanática torcida em Tralee. Essa, aliás, é uma das partes mais interessantes do basquete no país: os fãs são jovens, adolescentes. Os atletas, por sua vez, são muito duros e fortes. Eles jogam com narizes quebrados, dedos arrebentados. Mas ao mesmo tempo faltam a treinos para ir à Igreja no dia de Natal, sem a menor cerimônia. O campeonato é muito importante, mas aprendi que uma Copa local, de apenas quatro partidas, tem o mesmo valor, o que era inimaginável para um americano.

>>> "O ginásio de Tralee era um gelo, molhado, e tinha um piso inadequado. As paredes eram pintadas de verde escuro, os aros eram bambos e as tabelas eram feitas de madeira."

- E sobre a parte estrutural: o basquete não é tão popular assim na Irlanda, correto?
- O basquete deve ser o décimo esporte mais popular do país. Por isso, a situação econômica é difícil. Só os estrangeiros são pagos (cerca de US$ 1.200 por mês). Os irlandeses, não. E isso gera problemas políticos e de ciúmes entre os atletas. Além disso, os jogos são aos sábados e treinávamos apenas três vezes por semana. Mesmo assim, os jogadores locais são ótimos, acredite. Sobre estrutura, nossa, é terrível. O ginásio de Tralee, um dos piores do país, era um gelo, molhado, e tinha um piso inadequado. As paredes eram pintadas de verde escuro, os aros eram bambos e as tabelas eram feitas de madeira. Isso ajudou, claro, a escrever o livro. Alguns jogadores tampouco eram comprometidos com a equipe. Um deles, o foco central da obra, chama-se Kieran Donaghy, a quem conheci bem jovem. Ele era meio louco, e nunca havia jogado no campeonato local. Sua vontade de aprender a cada dia e seu crescimento fizeram com que eu voltasse a amar o jogo como eu amava antes.

Rus Bradburd / Foto: Reprodução- Você se considera uma espécie de descobridor do basquete irlandês?
- Não sei, mas certamente o meu livro é o primeiro sobre o basquete de lá. Isso também é relativo, pois quase não há livros sobre a modalidade fora dos Estados Unidos. Mas acho que consegui capturar o charme que é viver naquele país e o jogo em si.

- E agora, quais são seus planos? Visitar outros países sem tradição ou voltar aos EUA?
- Por causa do sucesso do meu livro, ganhei uma excelente proposta de trabalho. Em janeiro comecei a dar aulas de literatura como professor assistente da New Mexico University. Isso significa que minha carreira de técnico acabou. Mesmo assim, o basquete ainda está em minha vida, porque tenho um programa para crianças pobres em El Paso e serei o comentarista oficial da TV da universidade nesta temporada.

3 comentários:

Basquete Brasil disse...

Que ótima materia.Acredito que aos poucos o blog esteja atingindo uma maturidade invejável, cobrindo o que realmente acrescenta ao grande jogo.Parabéns a todos, e meus sinceros desejos de que continuem na trilha do sucesso e da informação inteligente.Um abração a todos,
Paulo Murilo.

Marival Junior disse...

Não sei se seria o caso mas já existe o livro em português?

Anônimo disse...

Oi, Paulo Murilo, obrigado pela força. E, Marival Junior, o livro não existe em português, mas está disponível na Amazon... Se você quiser arriscar... abs, Fábio Balassiano.