quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

DESAFIO BEM LONGE DE CASA


Franciele / Foto: Reprodução

"Prefiro ouvir muito antes de falar". Parece discurso de uma menina. E a autora, Franciele Aparecida Nascimento, maior revelação do basquete brasileiro, é uma menina. Com 20 anos e 1,87m (“Espero crescer muito ainda...), a ala está pronta para o maior desafio de sua carreira: tentar brilhar nas quadras da Espanha.

Sem lembrar ("cara, começa com Z") da cidade espanhola (Zamora) em que atuou pela seleção juvenil, a atleta acaba de chegar à Espanha. Ela assinou por quatro temporadas com o Rivas Futura, mas foi cedida ao Zaragoza, time de Ega. Fran sabe que terá problemas no início, mas nada que tire seu sono.

>>> "A fase por aqui não é das melhores, né. Muito time fechando. O momento é desfavorável, e como não sei quando terei uma nova chance, decidi tentar" - Franciele

"Vou chegar ouvindo mais do que falando e me dedicando nos treinamentos. Não tem essa de saudade. Se pensar nisso, não jogo. Odeio ficar só, mas não tem solução: vou me alimentar de basquete o tempo todo", avalia Fran, que já viveu com 16 moças num alojamento e ficará longe da família (sua mãe, que assim como a filha tem pavor de avião, ainda nem cogita passar uns tempos por lá).

Franciele / Foto: CBBFranciele, que usa o número
14 em homenagem à data de nascimento do já falecido pai (“ele sempre foi minha maior fonte de inspiração”), conta que não foi só o dinheiro que pesou na decisão.

"A fase por aqui não é das melhores, né. Tem muito time fechando. O momento é desfavorável, e como não sei quando terei uma nova chance, decidi tentar", diz Fran, que, assim como o ídolo Lisa Leslie, consegue enterrar ("mas só em treinos, porque precisa ter confiança pra fazer no jogo").

A ala ganhou fama após o Mundial Sub-21 de 2007. No torneio, foi a nona maior cestinha (14.8), a quarta em rebotes (9.1) e a segunda em tocos (1.6). Principal aposta do então recém-empossado Paulo Bassul no Pré-Olímpico do Chile, a caloura não decepcionou. Tímida fora das quadras ("Eu não sabia nem o que dizer pras meninas"), dentro ela foi além das expectativas: 7.8 pontos (atrás de Iziane e Micaela, de quem ouviu a singela frase "você será igual a mim no futuro") e 5.4 rebotes em 16 minutos por partida. Mas é a partir de uma idéia do treinador da seleção que beira a maior dúvida da jogadora.

Franciele / Foto: CBB"Ele (Bassul) conversou comigo e quer me ver treinando e jogando na ala (posição 3). Mas me sinto mais confortável na ala-pivô e não sei como será minha adaptação, preciso ver direitinho para não me prejudicar", diz, lembrando que a carga de treinamentos no país europeu é menor que a daqui. "Isso não é problema. Conversei com algumas meninas que estão por lá (inclusive a amiga Isis) e são poucas horas por semana mesmo, mas eu posso treinar e evoluir por conta própria. Para jogar onde o Paulo quer, preciso ganhar muito em fundamento e um arremesso mais confiável (seu jogo se baseia em cortes e aproximações perto da tabela). Ah, e tenho que melhorar demais na defesa, porque ainda dou uns vacilos brabos. Sempre aprendi a enxergar tudo como oportunidade de melhora. Acho que tá dando certo..."

Apontando as jovens Michelle Splitter e Clarissa como boas revelações do basquete feminino, ela diz que já sonhou em disputar a sua primeira Olimpíada com 20 anos. Lembrada do seu pânico de aviões e da duração da viagem à China, reagiu do jeito mais Franciele possível: "Vixe, nem tinha pensado nisso.
Ah, mas isso é o de menos, né. Quero é estar lá..."

Um comentário:

Anônimo disse...

O talento dessa menina eu já conhecia, mas o dissernimento não, sabe o que quer, e como fazer para chegar lá, e vai chegar.