sexta-feira, 19 de outubro de 2007

UM PAPO COM A HISTÓRIA


Pedro Ferrandiz / Foto: Divulgação

Pedro Ferrandiz. Dito assim, parece um nome comum. Não foi e não é. Considerado o Red Auerbach do Velho Mundo, este espanhol que completa 79 anos amanhã é o treinador europeu com mais títulos, recordes e honras no currículo. Foram 12 ligas espanholas, 10 Copas da Espanha e quatro Europeus. Ao lado do francês Robert Busnel (prata nas Olimpíadas de 1948 com seus screens) e do soviético Aleksandar Nikolic (com sua organização), é considerado um dos três revolucionários do continente por ter implantado o jogo em contra-ataque como arma mortal. Criador da Associação de Treinadores e da Fundação Pedro Ferrandiz, era ele o técnico do Real Madrid no jogo histórico contra o Corinthians de Wlamir e Amaury, em 1964. O espanhol, que passou alguns carnavais no Brasil, não faz por menos e diz que os dois brasileiros eram seus ídolos.

A consagração maior de Ferrandiz veio há pouco mais de um mês, no dia 7 de setembro, quando foi indicado ao Hall da Fama dos EUA por sua colaboração à modalidade. Confira a entrevista exclusiva ao Rebote, concedida por e-mail, direto de Madri.

Hall da Fama 2007 / Foto: Reprodução- REBOTE - Como foi entrar para o Hall da Fama dos Estados Unidos como colaborador do basquete? E não ser selecionado para a primeira turma no da Fiba?
- PEDRO FERRANDIZ - O sonho de qualquer treinador, desde que inicia sua carreira, é ingressar em um lugar desses, e eu consegui. Fui cumprimentado por Phil Jackson, e me senti ainda mais feliz. Não houve qualquer injustiça do Hall da Fiba, mas espero ser indicado mais cedo ou mais tarde. Não se esqueça de que também já sou membro da Ordem do Mérito da Fiba.

- Doze ligas espanholas, 10 Copas da Espanha, quatro Europeus. Sente falta de algum título?
- Além dos troféus como treinador, tenho o Colar Olímpico do COI, a Cruz do mérito desportivo da Espanha, a Ordem do Mérito da Fiba e o anel do Hall da Fama dos EUA. Não sinto falta de nada e creio que seja o treinador mais laureado de todos os tempos, o que me orgulha muito.

Pedro Ferrandiz / Foto: Reprodução- Os seus números são impressionantes: 71 vitórias consecutivas na liga e mais partidas treinadas, triunfos, títulos do campeonato e da Supercopa do que qualquer outro treinador, além da melhor média entre pontos feitos e sofridos. E seus ex-atletas falam que os treinos eram estupendos. Essa relação é indissociável?
- Os números refletem o que fazíamos nos treinamentos. Jogávamos como treinávamos, a base de velocidade, forte defesa e sistemas de ataque com muitos movimentos, mas nada sofisticados. A novidade em nossa forma de jogar surpreendeu nossos adversários, motivo maior dos nossos resultados. Acho que minha formação em Psicologia me ajudava muito na relação com os atletas.

- Hoje em dia, o jogo de contra-ataque que você implementou é quase inexistente. Por que isso aconteceu?
- O contra-ataque não desapareceu por completo, mas as defesas pressionadas o tornam mais difícil de aplicar e, sobretudo, os rebotes ofensivos existem em maior quantidade que àquela época. Além disso, nos anos 60, o basquete do Leste Europeu se baseava em força física e estatura, e eu precisava que meus elencos, pouco dotados neste sentido, tivessem alguma vantagem. Por isso decidi usar velocidade e inteligência ao mesmo tempo, e nos mantivemos invencíveis por anos.

Pedro Ferrandiz / Foto: Reprodução- Você viveu uma época de placares muito baixos, mas fazia seus adversários jogarem de maneira diferente, e o placar se dilatava. Na final do Europeu de 1967, por exemplo, a vitória do Real sobre o Milan foi por 91-83. Ainda é possível jogar com este tipo de pensamento?
- Na verdade, nós contribuímos para que os marcadores aumentassem por causa da velocidade e dos arremessos mais livres. Quanto a jogar da mesma forma, não sei precisar. O basquete melhorou muito em todos os aspectos. Alguns sistemas foram aperfeiçoados e outros, superados.

- Você se retirou do basquete aos 49 anos - e já tinha tentado fazer o mesmo duas vezes, quando treinava o Real. Por que se aposentar tão cedo? Alguma vez pensou em voltar?
- Mesmo que pareça pretensioso, eu me aposentei saturado das vitórias, que já não me encantavam tanto. Nunca quis voltar às quadras por isso.

Amaury e Wlamir / Foto: Reprodução- Em 1964, em São Paulo, você era o treinador na partida em que o Corinthians, com 51 pontos de Wlamir Marques, derrotou o Real Madrid por 118-109. Lembra-se deste jogo? E da geração de Wlamir e Amaury Pasos?
- Claro que sim! Foi um dos jogos mais fantásticos de que participei, com as duas equipes passando do placar centenário. Nunca esquecerei e creio que os torcedores tampouco. Eu era apaixonado pelo jogo brasileiro e esses dois atletas que você citou, em especial, eram meus ídolos.

- Ao lado do italiano Cesare Rubini, você fundou a Associação de Treinadores de Basquete. Quais eram seus objetivos e como é o trabalho da entidade hoje em dia?
- Criamos a entidade para unir os treinadores de todo o mundo, possibilitando o intercâmbio e a troca de experiências. Hoje a Associação é integrada à Fiba.

Fundação / Foto: Reprodução- Você também criou a Fundação Pedro Ferrandiz. Fale sobre ela.
- A Fundação é minha maior obra, sem dúvida. Meu objetivo é recuperar o patrimônio cultural da modalidade, investigar sua história e disponibilizar a maior biblioteca e museu do mundo. Está aberta gratuitamente ao público (fica em Madrid, no mesmo prédio onde foi inaugurado o Hall da Fama da Fiba).

- Por fim, duas perguntas: qual o melhor jogador que você treinou e qual a partida mais emocionante de sua vida?
- Emiliano Rodriguez, ex-ala do Real Madrid, foi o melhor jogador. E a final do Europeu em Barcelona, quando perdemos para o TSK de Moscou na segunda prorrogação, foi o jogo mais emocionante.

4 comentários:

Anônimo disse...

Sinceramente, a história dele parece aquelas estórias de filme onde o treinador pega um time desacreditado e ganho tudo que vel pela frente.

Realmente, Fantástico.

Anônimo disse...

O mais incrivel é acreditar que ele se retirou do esporte tão novo.
Não dá pra dimensionar quantos titulos mais seriam ganhos.

fábio balassiano disse...

Caros Ronei e Alexandre Reis, quase nunca comento em cima de comentários porque acho que este é um espaço dos leitores mesmo. Mas confesso ter ficado feliz que a história dele tenha chamado a atenção. Ele pode parecer arrogante (talvez seja mesmo), mas é incrível a sua capacidade. Não deixa de ser um bom indicativo que parte da galera tenha se interessado pela sublime carreira do cara. Parabéns a vocês! abs, Fábio Balassiano.

Anônimo disse...

Incrivel !

Quero ser que nem ele quando crescer!

hehehe

Deve ser demais, ter todos estes titulos e ainda contribuir de outras formas para o esporte que ama.

Incrivel e parabens ao pessoal do rebote por levantar esta lenda do jogo!

Henrique Lima