A respeito do momento delicado do basquete feminino, vale fazer uma viagem à caixinha de comentários e pescar o que escreveu o Sandro, sempre cirúrgico nas análises.
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Não adianta discutir os frutos sem discutir as sementes e as árvores. Por que existem os Bassuls? Por que existem as izianes? Por que precisamos de técnicos estrangeiros hoje? Por que não produzimos mais Paulas, Hortências e Janeths?
O buraco é mais embaixo, mas as pessoas insistem em esperar que a solução venha em trabalhos miraculosos de dois ou três meses, corrigindo desmandos, falta de projetos que já vem há muito tempo.
Pergunto qual foram as grandes revelações das LNBs? Quem pode enumerar um técnico revolucionário ou promissor? E a LNB feminina? Existe? Estou falando de dois anos, e não produzimos nada disso, mas pior seria se pensássemos as quase últimas duas décadas desde o Mundial de 94, no caso feminino. E no masculino, onde ainda vemos alguns destaques, vale lembrar que quase todos esses jogadores com nome hoje o fizeram no exterior, aprendendo lá fundamentos do jogo que - todos nós sabemos - outros países ensinam nas escolas.
Hoje nossas escolas nem quadras têm. Quando têm, a primeira coisa que quebram são os aros e tabelas. As universidades públicas não investem em esportes, e as particulares só constroem prédios, fora algumas exceções. Não há projeto de esporte que obrigue esse tipo de investimento aliado à educação, então querem educar e ensinar o jogo com atletas quase adultos?
O basquete, com a arrogância de seus homens fortes, não consegue olhar para seu umbigo e aprender com lições do vôlei, que não começou sua estrutura ganhando. O feminino mal ganhava da Argentina ou do Peru, o masculino jamais ganhava de Cuba, ou algum título, mas manteve um planejamento, um incentivo à prática do esporte, massificando numa mídia, mesmo perdendo, aprendendo com outras nações fortes nesse esporte (União Sovietica, EUA, asiáticos etc).
O basquete quer vencer sem estrutura e depois se consolidar ou retornar ao topo. Ou seja, quer ter frutos sem plantar sementes e regá-las.
Considero o basquete um esporte sem dúvidas mais espetacular que o vôlei, mais atrativo, emocionante e imprevisível, mas as pessoas não conseguem torná-lo atrativo na mídia porque querem fazê-lo de cima para baixo, com vitórias imediatas. Por isso contratam técnicos de ocasião, sejam estrangeiros ou não. Eles não são milagreiros.
Em vez de discutir Izianes, por que não discutir amplamente um basquete, ou um (des)projeto esportivo que produz Izianes?